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NARA – Patrimônios da Humanidade

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Nara

Repleta de natureza e história, a província que viu o nascer do Japão que conhecemos hoje

 

Quando se fala da história da Terra do Sol Nascente, Kyoto é a primeira grande referência. Não tinha como ser diferente já que a cidade foi capital do país por mais de mil anos. Mas nada do que admiramos em Kyoto existiria da forma que existe se não houvesse Nara. Distante cerca de uma hora da antiga capital milenar e da Osaka dos mercadores, Nara foi o primeiro lugar onde o budismo formou raízes. E elas foram tão profundas que estão lá até os dias de hoje. Não é à toa que a província tem duas regiões tombadas pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, na capital Nara e nas montanhas de Yoshino. Nesta edição, o GUIA JP vai te levar para conhecer esses lugares. Vem com a gente!

 

A primeira capital permanente do Japão

O período foi curto, apenas 74 anos, a começar de 710. Mas a cidade de Nara, capital da província, é tida como a primeira capital “permanente” do Japão. Em outras palavras, Heijo — como a cidade era chamada — foi escolhida e se desenvolveu com a intenção de encerrar um ciclo histórico em que cada imperador que subia ao trono escolhia uma localidade para ser a capital do país.

Era a época que o budismo começava a se firmar no Japão, trazido da China por estudiosos de ambos os países. Nara se tornou um dos mais importantes polos da nova religião na Terra do Sol Nascente. Acontece que os monastérios cresceram demais e se tornaram poderosos a ponto de incomodar o monarca. Foi quando a corte decidiu sair de Nara e se mudar, inicialmente, para Nagaoka e, depois, para Kyoto, de onde reinou por mil anos.

Nara perdeu o poder político, mas a importância religiosa continuou e é visível até os dias de hoje. Templos e santuários são os principais pontos turísticos de Nara. O Todaiji é o mais conhecido deles. Em seu entorno fica o Parque Nara, o Santuário Kasuga, o Museu Nacional de Nara, dentre outros pontos interessantes da antiga capital.experiência única.

Nara – Todaiji

Construído no ano de 752, o Todaiji foi mais do que um templo. Em sua época de ouro, ele era considerado o equivalente a uma faculdade. Aspirantes vinham de todos os lugares do país para estudar no Todaiji. O complexo era tão grande — e poderoso — que, pode-se dizer, foi a principal causa da saída da corte de Nara. Os prédios remanescentes não representam, nem de longe, a real extensão do Todaiji nos seus primeiros séculos de existência.

Com pouco mais de 25 metros de altura, o Nandaimon — algo como “grande portal sul” — é a entrada na área do templo a partir do Parque Nara. A construção de madeira foi inaugurada em 1203. Dois guardiães de madeira também fazem parte da obra. As estátuas representam os Nio, divindades guerreiras. Toda a construção é tombada como Tesouro Nacional do Japão.

O Daibutsuden, o prédio principal, é a maior construção de madeira do mundo. Ainda assim, sua área construída atual de 2878 m², datada da virada do século 17 para o 18, é apenas ⅔ do tamanho original. A construção impressiona já de fora. Mesmo a uma certa distância é difícil enquadrá-la na lente do telefone celular. Mas é dentro que se pode perceber sua dimensão, em especial a altura (48 metros). O espaço abriga uma das maiores estátuas de bronze de buda do Japão — o “Daibutsu” do nome quer dizer “Grande Buda”. A imagem de 15 metros de altura representa Vairocana, que fica no centro na mandala dos Cinco Budas da Meditação. A posição das mãos da estátua significa “não tenha medo”.

O salão é cheio de outras estátuas de diversas épocas, além de uma maquete em que é possível entender a extensão do templo em sua época dourada. Outro ponto de destaque é um dos pilares do templo que tem um buraco do tamanho da narina da estátua. A longa fila no local se explica pela crença de que, ao passar pelo buraco, o indivíduo ganha a Iluminação na próxima vida. A ver.

A casa dos cervos

Símbolos de Nara, os cervos selvagens que circulam pela cidade também são considerados Tesouro Nacional. Atualmente, cerca de 1200 animais vivem no Parque Nara e arredores. A localidade é considerada a casa dos cervos por mais de 1300 anos. Adorados como mensageiros dos deuses, os ruminantes são protegidos por lei há séculos. Até 1637, era crime passível de pena capital matar um deles.

Em duas ocasiões, os animais quase desapareceram do parque. No século 19, com a Restauração Meiji, eles foram considerados indesejáveis. Registros mostram que, no ano de 1873, o rebanho chegou a apenas 38 cabeças. Após a Segunda Guerra Mundial, como resultado da caça ilegal, o número de veados no parque também foi a menos de 100.

Apesar de viver em proximidade com os humanos, os cervos de Nara são animais selvagens. Os visitantes são encorajados a oferecer aos animais as bolachas vendidas no local. (Elas são preparadas especialmente para eles, portanto são alimentos seguros.) Porém, é preciso cuidado. Seja cortês com o animal. Brincadeiras como oferecer e tirar o lanchinho costumam irritá-los. Evite carregar as bolachas no bolso. O faro dos cervos é bom e eles costumam ir atrás de quem esconde a ração. Além disso, não deixe as crianças sozinhas com os animais, nem as force brincar com eles.

Mas os veados não são a única atração do Parque Nara. Na primavera, parte da área fica coberta de cerejeiras rosadas. Além disso, o amplo espaço é excelente para fazer fotografias e brincar com crianças.
Quem tem interesse por arte sacra também não pode deixar de visitar o Museu Nacional, que também está localizado no parque. O espaço tem uma das mais belas e ricas coleções permanentes de arte budista do Japão. Vale a visita.

Na seara dos deuses da Terra

Junto com o budismo, o xintoísmo forma a dupla de religiões mais praticadas pelos japoneses. Na realidade, uma não exclui a outra. Desde a chegada dos ensinamentos de Buda no século 7 que as duas religiões estão lado a lado no escopo da fé dos japoneses. Não é incomum ter espaços xintoístas dentro de templos budistas, apesar da separação oficial entre as duas religiões ter sido imposta pela Restauração Meiji. Diferente do budismo, o xintoísmo não tem escritos sagrados transmitindo os ensinamentos. O ideário gira em torno dos fenômenos da natureza, que são tidos como manifestações divinas. Essa conexão com o entorno não considera homem e natureza como elementos distintos.

O Kasuga Taisha é o principal santuário de Nara e fica a poucos minutos de caminhada do Museu Nacional e do Todaiji. Ele também foi construído no século 8 como instrumento de proteção para a capital que estava se formando. O Kasuga era, também, o santuário protetor do clã Fujiwara, o mais poderoso do Japão na época.

O espaço é composto por diversas construções salpicadas numa área extremamente arborizada. Até um Jardim Botânico existe no local, com todas as 250 espécies de plantas descritas no Man’yoshu, a mais antiga coletânea de poemas do Japão, publicada no século 8. Muita gente visita o local nos meses de abril e maio para ver as glicínias em flor.

Embora pequeno, o prédio principal do santuário tem enorme valor arquitetônico. Tanto que seu estilo de construção é conhecido justamente como kasuga, com a fachada principal construída no lado de uma das empenas e formando uma varandinha. Charmoso com suas lanternas, o espaço merece a visita.

A montanha de cedros

Localizado a cerca de 1 hora e 40 da capital, Yoshino é uma das localidades mais mágicas da província de Nara. A localidade é conhecida como um dos mais interessantes destinos de primavera do Japão. Isso porque o Monte Yoshino é coberto por cerejeiras — fala-se de 30 mil pés — que explodem em cor-de-rosa no início de abril.

A localidade também é conhecida pela produção de cedro. A atividade extrativista já gerou muita riqueza para a região, bem como problemas ambientais. No momento, a ideia tem sido desenvolver a economia de forma sustentável, incluindo aí o turismo. No sopé da montanha, às margens do Rio Yoshino, fica uma das atrações criadas para revitalizar a cidade, fazendo homenagem à economia local. Trata-se da Yoshino Cedar House, um projeto arquitetônico conjunto entre o Airbnb, o arquiteto Go Hasegawa e a comunidade da região.

 

Construída majoritariamente de cedro, a casa é feita com 28 tipos de madeiras da região, todas extraídas e beneficiadas por trabalhadores locais. A arquitetura também faz uma homenagem aos estilos japoneses de construção. O telhado, em formato de triângulo isósceles, é inspirado nas casas tradicionais de Yoshino. Já a fachada, que fica no lado oposto das empenas, é formada por um engawa, um espaço que fica num intervalo entre o interno e o externo da casa e lembra uma varanda. No interior, tanto a mobília quanto boa parte dos utensílios também são feitos de madeira. Um luxo!

O sistema de administração é diferente dos outros imóveis do Airbnb. Como a casa não é uma propriedade comum, não há um anfitrião. A Yoshino Cedar House é gerida pela própria comunidade através de uma cooperativa. São 31 pessoas que se revezam no serviço de receber os visitantes e 40% da renda da propriedade é revertida para os projetos da comunidade. Como a casa não fica perto de nenhum ponto turístico, é bom planejar bem. No entanto, a estadia é uma excelente oportunidade para quem procura experiências fora da rota.

Flores na montanha

Mas a grande atração de Yoshino é, sem dúvida, o “festival” cor-de-rosa criado pelas flores de cerejeira no início da primavera. Para ver bem as flores, é preciso subir o Monte Yoshino, o que pode ser feito de ônibus, a partir da estação ferroviária que leva o nome da cidade. Vale a pena visitar alguns dos templos e santuários da região.

O Kinpusenji é o mais importante deles. Yoshino é uma montanha sagrada para os praticantes do budismo Shugendo, uma escola esotérica que se originou no Japão como uma mistura de crenças budistas, xintoístas, taoístas e animistas de outras origens. Parte do sítio tombado pela UNESCO como Patrimônio Histórico da Humanidade, o templo foi fundado na segunda metade do século 7. Com 34 metros de altura, o salão principal é a segunda maior estrutura de madeira do Japão. Dentro dele, três estátuas de Zao Gongen — o protetor das montanhas de Yoshino — podem ser apreciadas. Para os fiéis, a visita é uma oportunidade única para agradecer pelas maravilhas desfrutadas na província de Nara.

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