Home Japão Iwate na palma da mão

Iwate na palma da mão

0
Konjikido, salão dourado do templo Chusonji

Diz a lenda que um oni, uma espécie de ogro do folclore japonês, chegou a uma vila e decidiu atormentar a vida do povo local. Na vila, havia três pedras que haviam sido enviadas das entranhas do planeta. Elas eram habitadas por deuses que eram adorados pelo povo local. Cansados do oni, o povo local começou a orar para que os deuses das pedras fizessem algo contra a criatura perturbadora. Os deuses, então, se manifestaram e lutaram contra o oni, acorrentando-o às pedras. Ali, eles fizeram o oni prometer que jamais voltaria à vila e, para garantir a promessa, os deuses ordenaram a criatura a selar o acordo com as próprias mãos que ficaram marcadas nas rochas. As marcas na rocha, chamadas de oni-no-tegata, estão guardadas até hoje no Santuário Morioka, enquanto o oni habita um lugar desconhecido nas montanhas e cumpriu sua promessa de nunca mais atormentar o povo local.

Essa é apenas uma das inúmeras lendas contadas na província de Iwate. “Iwa” quer dizer “pedra” e “te”, mão. O nome da província, portanto, muito provavelmente vem dessa história de fé que atravessou gerações. Fé, aliás, que tem fundamento na exuberante natureza local, formada por fenômenos extremos da natureza, como erupções vulcânicas e tremores da terra. Nesta edição, o GUIA JP te leva para uma viagem pelas belezas da província de Iwate. Embarque com a gente!

Costa dramática

O Japão é um país em que mar e montanha convivem harmoniosamente, formando belos recortes que podem ser apreciados em passeios de carro ou a pé pela recortada costa de Iwate. O ponto mais conhecido é Jodogahama, a Praia da Terra Pura. Trata-se de uma série de formações de rochas vulcânicas no mar, a poucos metros de distância de uma praia de areia e cascalhos quase brancos. Cobertas de pinheiros, as rochas se assemelham a um jardim japonês, esculpido cuidadosamente pelas mãos da natureza. As águas gélidas são excelentes para mitigar o calor do verão, mas mesmo em outras épocas do ano a vista atrai visitantes de todo o país.

Jodogahama, uma das mais belas praias do Japão

De Jodogahama para o norte, fica a região de Kitayamazaki com seus precipícios à beira-mar, de alturas entre 150 e 200 metros. São oito quilômetros de belas vistas ao longo da costa, com três observatórios principais. A visão é de tirar o fôlego! É possível caminhar entre os observatórios através de trilhas, além de haver uma escadaria íngreme que leva ao nível do mar. Partindo do pequeno porto próximo à estação de Shimanokoshi, é possível tomar um barco e fazer um passeio para apreciar as belezas dos desfiladeiros de um ponto de vista privilegiado.

Não muito distante do litoral, entre Jodogahama e Kitayamazaki, fica a Ryusendo, considerada uma das três mais belas cavernas do Japão. Estudada desde os anos 1920, a formação é, na verdade, um grande complexo com cerca de 3 mil metros de extensão montanha adentro. Visitantes podem se aventurar por até 700 metros na caverna de águas azuladas que formam alguns dos mais límpidos lagos do Japão. A área interna é muito bem iluminada. Estalactites e estalagmites podem ser vistas e, com sorte, você pode até encontrar o inofensivo morcego-orelhudo, uma espécie endêmica da região.

Já em Kuji, ao norte, próximo da divisa com a província de Aomori, é possível encontrar uma das mais interessantes tradições marinhas japonesas: as amas, mergulhadoras que pescam mariscos e ouriços-do-mar. As profissionais conseguem mergulhar sem equipamentos de respiração até uma profundidade de 10 metros. Em lances rápidos, que envolvem um olhar bem apurado, as amas coletam cerca de 10 ouriços no minuto em que permanecem mergulhadas. De julho a setembro, elas se apresentam ao público no Centro das Amas em Kosode. Depois da apresentação, é possível provar as iguarias por elas pescadas.

Ryusendo: aventura montanha a dentroPatrimônio da Humanidade

Patrimônio da Humanidade

O Japão é um país com diversas localidades tombadas como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. No entanto, o reconhecimento internacional nem sempre se converte em fama. É o que ocorre com Hiraizumi, uma pacata cidade no Sul, bem próxima da fronteira com a província de Miyagi.

No início do século 12, quando Kyoto já era uma consolidada capital no oeste do Japão, o dominante clã Fujiwara decidiu apostar em Hiraizumi como a “sede do norte” dos seus domínios. Não foi por muito tempo, já no final dos anos 1100 o clã Minamoto, que se tornaria a primeira casa xogunal do Japão, derrotou os Fujiwara e Hiraizumi foi esquecida. No entanto, inúmeras relíquias e construções da época sobreviveram ao tempo e fazem da cidade um dos melhores destinos de turismo histórico do Japão. A área também é um convite para quem gosta de passear de bicicleta, exceto no inverno, quando a neve toma conta.

O Chusonji é o centro da área preservada de Hiraizumi. Fundado no século 9, o templo budista da escola de Tendai ganhou importância durante o século 12, quando foi um grande complexo. Com a guerra entre os Fujiwara e os Minamoto, a maioria dos prédios foi destruída. No entanto, mais de 3 mil artefatos sobreviveram, além do Konjikido, um salão coberto de ouro, tão impressionante quanto o conhecido Kinkakuji de Kyoto.

Uma visita ao Konjikido vai além disso. Com diversas construções espalhadas pela floresta, o espaço ganha caras diferentes ao longo do ano com a mudança das estações. No outono, as folhas das árvores decíduas deixam tudo pintado de vermelho e amarelo, fazendo do Chusonji um dos cenários mais belos do Japão na estação das frutas. Com o cair da tarde, a iluminação especial do Koyo Ginga, um festival que é organizado anualmente do final do outono até a segunda semana de novembro, embeleza ainda mais o espetáculo da natureza.

Terra Pura: o paraíso segundo os budistas no Motsuji

Não muito distante do Chusonji fica o Motsuji, outro templo budista que foi importante durante o período de dominância do clã Fujiwara. Apesar de ter sofrido o mesmo nível de destruição que seu vizinho mais famoso, o Motsuji também merece a visita, em especial por causa do Jardim da Terra Pura, um dos poucos remanescentes deste estilo de paisagismo que foi popular durante os séculos 11 e 12. São jardins que reproduzem o paraíso do ponto de vista do budismo e garantem uma caminhada tranquila e reflexiva.
A uns 30 minutos de pedalada do Motsuji fica o Takkoku no Iwaya, um pequeno templo encravado na rocha com mais de 1200 anos de história. O local cheio de lendas e dedicado a guerreiros de diferentes épocas é um dos mais belos da cidade histórica.

Takkoku no Iwaya, templo encravado na pedra

Não há comentários

O que você achou? Fale pra gente

Please enter your comment!
Please enter your name here

Sair da versão mobile