É bastante recorrente na clínica a chegada de pacientes queixosos de algo que mal se consegue por em palavras. Para cada um de nós, o sintoma tem diferentes maneiras de se manifestar, uma dor no peito que vem e que vai, uma pressão inexplicável, falta de ânimo e vitalidade para fazer o que antes tinha disposição somadas a uma falta de interesse pela vida. Essas são manifestações do que geralmente nomeamos de angústia, esse sentimento de vazio que não conseguimos a priori descrever com precisão de onde e porque veio e como se faz para cessar.
Nos inclinamos inicialmente a investigar as causas biológicas; recorre-se primeiro à medicina e às soluções medicamentosas, afinal, nossa defesa primária é se defender dela, contra atacá-la, sedá-la. Mas e quando são excluídas as causas orgânicas e os psicofármacos não fazem efeito e a angústia persiste? O que isso tem a nos dizer?
Mas por que tentar ouvir algo que dói? Pois a angústia é uma norteadora, ela nos indica sobre algo da própria subjetividade do sujeito que há muito tempo vem sendo negligenciada por uma série de razões intrínsecas à história pessoal de cada um. Podemos pensar que a angústia tem uma função em si, ela é um ponto de partida para dar início a uma investigação acerca de nós mesmos.
Pergunte-se: essa vida que vivo é minha ou eu deixei que a escolhessem por mim? E qual é a minha responsabilidade nisso? Partindo do raciocínio que as histórias mais difíceis de contar são aquelas que a gente não compreende e portanto sendo estas mesmas que provocam angústia, a psicanálise viabiliza a reconstrução de uma narrativa pessoal e consequentemente uma nova maneira de estar no mundo, possivelmente mais coerente consigo mesmo e com os seus próprios desejos.