Localizada no extremo norte da ilha de Honshu, Akita é uma das províncias japonesas mais tranquilas e menos visitadas por estrangeiros. Cercada de montanhas e coberta de neve durante o inverno, Akita é o local ideal para quem busca um turismo sem pressa e deseja descansar ou conhecer tradições japonesas que pouca gente conhece. Um dos símbolos da província é o Namahage, uma figura folclórica mal encarada, usada para lembrar as crianças que não se deve fazer coisa errada. À parte o estranho costume, Akita é uma província acolhedora, de gente simples, que trabalha firme na agricultura, na pesca e em outras atividades em que o contato com a natureza é fundamental. Sendo assim, uma visita a Akita não pode deixar de propiciar experiências em que os elementos e as tradições sejam fundamentais. Por isso, o GUIA JP separou para você cinco experiências inesquecíveis na província. Viaje com a gente.
Encantar-se com as belezas do Lago Tazawa
Com 423 metros de profundidade, o Tazawa é considerado um dos mais belos lagos de caldeira do Japão e, também, o mais profundo. O lago e o seu entorno são um resumo do que a província de Akita pode oferecer de melhor aos seus visitantes: uma imersão na natureza, com tranquilidade e sem pressa. Cercado por montanhas com florestas densas, o Tazawa é um convite para quem gosta de atividades ao ar livre.
Um bom local para começar o passeio pelo lago é o Santuário Goza no Ishi, com o seu portal torii bem nas margens do lago. Diz-se que, no meado do século 17, o daimyo Satake Yoshitaka costumava sentar-se em uma rocha no local para admirar a beleza do lago. Goza no Ishi quer dizer, justamente, “pedra de se sentar”.
Dali, é possível pegar um ônibus até a margem oeste do lago, onde fica uma pequena estátua dourada de mulher. Chamada de Tatsuko, a imagem representa a lenda de uma bela mulher que rezava à beira do lago para manter-se bela para sempre. Por causa da vaidade, a mulher acabou castigada com uma maldição e se transformou num dragão. Com vergonha da nova aparência, ela teria se afundado no lago profundo, onde vive até os dias de hoje. Da estátua da Tatsuko, sai um barco turístico (¥1220/40 minutos) que cruza o lago até a margem leste, onde fica a área com maior infraestrutura do local. Restaurantes, cafés e lojinhas se estabeleceram ali e são uma opção para o almoço. Nesta margem também é possível alugar bicicletas e prolongar o passeio por outras partes do lago.
Relaxar nas águas termais da região de Hachimantai
Akita também é uma província famosa pelas estâncias de águas termais. A maioria delas fica na área montanhosa no entorno do Lago Tazawa. Nyuto Onsen é a mais conhecida. Oito ryokan — pousadas mais tradicionais — ficam na área da estância, boa parte deles considerados bem rústicos. A região é conhecida pelas águas leitosas, mas existem banhos com minerais de cor mais terrosa também.
O Tsurunoyu Onsen é o ryokan mais antigo e mais conhecido da região. Alguns dos quartos têm, inclusive, um fogareiro de chão conhecido como irori. Os banhos do Tsurunoyu também são considerados excepcionais e incluem um espaço misto a céu aberto, que fica aberto aos não hóspedes todos os dias da semana, exceto às segundas-feiras que não são feriados. A entrada é ¥600 para quem não vai se hospedar no local. Outros ryokan da região incluem o Kuroyu (com seu banho a céu aberto misto onde se pode ver um belo pôr do sol) e o Taenoyu.
Outra conhecida estância de águas termais da região é Tamagawa Onsen, conhecida pela água termal mais ácida do país. A estância tem apenas uma acomodação, que recebe não hóspedes em seus banhos em todas as estações, exceto o inverno. A fonte que abastece os banhos fica a poucos metros do ryokan e é possível vê-la. No entanto, entrar na fonte não é permitido já que a água jorra a 98 graus, o que causaria queimaduras graves. A fonte também é conhecida como a mais produtiva do país, liberando 9 mil litros de água fervente por minuto, ininterruptamente.
A região de Tamagawa Onsen também é conhecida pela existência de uma pedra radioativa rara chamada hokutolita que, acredita-se, tem efeitos benéficos à saúde, incluindo ação preventiva contra o câncer. Por isso, é possível ver pessoas deitadas sobre as rochas no caminho entre o ryokan e a fonte.
Entrar num túnel do tempo em Kakunodate
Quem gosta de histórias envolvendo samurais não pode deixar de visitar Kakunodate. A pequena cidade era o centro de defesa de sua região e tinha um castelo. Embora a principal edificação tenha sido destruída, a cidade conseguiu preservar dois distritos de grande importância histórica: o dos samurais e o dos mercadores. Diz-se que essas duas partes da cidade não mudaram muita coisa desde a segunda década do século 17.
O distrito dos samurais era o lar de 80 famílias de guerreiros, que viviam em ruas estreitas e em casas com quintal amplo e arborizado. Muitos desses quintais são ornados com uma espécie de cerejeira chamada shidarezakura, conhecida também como “chorona”. No início de maio, as flores desabrocham trazendo milhares de visitantes para o local.
Seis das antigas casas de samurais são abertas ao público. A Casa Ishiguro ainda é habitada por descendentes dos antigos guerreiros e, por isso, apenas parte dela é acessível. Mas a visita (¥400/adultos) vale a pena. Na casa, está exposta uma pequena coleção de armaduras e vestimentas usadas pelos antigos guerreiros.
A maior casa da área, no entanto, é a Aoyage, que funciona basicamente como um museu da vida dos samurais de Kakunodate (¥500/pessoa). São 10 mil metros quadrados que incluem um jardim com informações dispostas em inglês e japonês. Há espaços também para experiências como o uso da espada, do capacete ou mesmo da vestimenta completa (¥4500/pessoa/hora). Dentro do espaço, funcionam também lojinhas e restaurantes, dentre eles o Inaniwa, que tem 350 anos de história e serve o que é considerado um dos três melhores udons do Japão.
Não deixe de visitar, também, as demais casas de samurais, cuja entrada é franca, e o distrito dos mercadores, onde fica uma fábrica de missô de 150 anos, feita de tijolos, um estilo de arquitetura característico do Japão pós-feudal.
Conhecer os ”iglus” japoneses em Yokote
Cancelado nos últimos anos por causa da pandemia, o Yokote Kamakura Festival ocorre nos dias 15 e 16 de fevereiro, o auge do inverno em boa parte do Japão. O Kamakura do nome do evento são pequenas construções de neve, como iglus, que são construídos na região como uma espécie de altar para pedir às divindades por água em abundância quando o inverno acabar.
No interior das construções, uma pequena lareira abastecida a carvão é acendida para aquecer os visitantes e grelhar os onigiri, bolinhos de arroz que são servidos durante o festival. Também é possível provar o amazake, um fermentado de arroz adocicado e bem espesso, considerado uma espécie de superalimento. Para provar as iguarias, o visitante deve deixar uma oferenda no altar.
Passeando pelas ruas da vila, onde os iglus são instalados, uma trilha formada por lanternas abrigadas em pequeninas construções leva até o Castelo de Yokote, que costuma ficar fechado durante o inverno, mas abre especialmente nas datas do festival. As lanternas também são acesas na beira do rio, formando um belo espetáculo que atrai visitantes de todo o país.
Provar saquê numa fábrica com mais de 300 anos de história
Akita é uma das maiores produtoras de arroz do Japão, e o cereal produzido na província é bem cotado em todo o país. Com ele é produzido também o saquê, uma bebida alcoólica fermentada, cada vez mais bem cotada no cenário internacional. Por causa da qualidade do arroz e da água de Akita, os saquês da província também são muito bem avaliados dentro e fora do país. Por isso, interessados em culturas etílicas não podem deixar de visitar uma fábrica de saquê durante sua visita à província.
Fundada em 1689, a Suzuki Shuzo foi fundada pelo jovem Matsuemon que saiu da província de Mie, no centro do Japão, para recomeçar a vida no norte do país. Conta-se que ele ficou apaixonado pela beleza luxuriante e intocada das florestas e montanhas de Akita, onde fincou residência próximo a Kakunodate. Matsuemon trabalhou por quatro anos na lavoura até conseguir atingir seu objetivo de produzir saquê.
A marca principal da Suzuki é a Hideyoshi, uma linha que nasceu de um saquê criado em 1848 para um concurso aberto pelo daimyo de Akita da época. Nomeado Hatsu-arashi (algo como “primeira trovejada”, o então desconhecido saquê caiu nas graças do senhor feudal que, ao prová-lo, exclamou “hidette-yoshi”, que pode ser traduzido como “extremamente bom”. Assim, os produtores da bebida decidiram mudar o nome do saquê para Hideyoshi e, assim, nasceu a linha que é hoje composta por dois rótulos no estilo daiginjo, altamente refinado, com sabor e aroma frutado e suave.
Com os olhos voltados para o mercado internacional, onde alguns dos seus saquês já estão nas prateleiras, a Suzuki também recebe visitantes estrangeiros em passeios guiados à fábrica em inglês. Visitantes devem fazer a reserva com no mínimo três dias de antecedência pelos contatos fornecidos no site da fábrica, o www.hideyoshi.co.jp/en/tour.