Aldemo Garcia, Cônsul-geral do Brasil em Hamamatsu – Ele não para!

Leitura obrigatória

Cheio de energia, cônsul-geral do Brasil em Hamamatsu quer ir além das funções cartoriais e elevar a comunidade brasileira no Japão.

Conversar com Aldemo Garcia exige raciocínio rápido. O diplomata de 62 anos domina o papo com uma avalanche de ideias e propostas. Completando 40 anos de carreira em 2022, ele está capitaneando as celebrações do Bicentenário da Independência na cidade com o maior número de residentes brasileiros no Japão.

Tendo passado por países como a França, a Argélia, os Estados Unidos, o Canadá e o Timor Leste, onde serviu como Embaixador, Garcia chegou a Hamamatsu há um ano e meio, bem no momento mais difícil da pandemia. Mesmo assim, ele não deixou de ter ideias e propostas. Boa parte delas começou a sair do papel assim que as restrições foram relaxadas. Pode-se dizer que Hamamatsu ganhou um banho de Brasil em 2022, graças à sua atuação incansável.

Garcia abriu um espaço na sua agenda para bater um papo com o Guia JP, passar a limpo sua atuação no último ano e contar um pouco sobre seus projetos futuros. Confira!

Como o senhor avalia o Brazilian Day 2022?
Acho que o evento, de uma forma geral, foi um grande sucesso. Foi a primeira vez que foi realizado um evento como esse em Hamamatsu. ormamos uma comissão organizadora, levamos praticamente um ano na organização. No início, muitas empresas não acreditaram que a gente poderia fazer um evento desse nível, dessa magnitude. Foi muito difícil captar patrocínios. O evento custou mais de ¥13 milhões. No final das contas, tivemos um evento com cerca de 40 atrações musicais e 16 horas de música brasileira no centro de Hamamatsu. Pelas estimativas da prefeitura — e nossas, também —, cerca de 25 mil pessoas circularam pelos dois dias de evento. Realmente, foi um sucesso. A principal atração, Toni Garrido, fechou o domingo com um show apoteótico. Demos oportunidade para várias bandas de estilos como forró, bossa nova, axé, pop-rock, sertanejo e chorinho. Trouxemos o que a gente tem de melhor na cultura brasileira, que é a música, a diversidade e a riqueza musical brasileira. Fizemos uma abertura com quatro prefeitos e outras autoridades fazendo discurso. O prefeito de Hamamatsu [Yasumoto Suzuki] ficou bem impressionado com o evento. Ele disse que não imaginava um show tão grande e prometeu apoio para o ano que vem. Recebemos muitos elogios, não somente no dia, mas depois por e-mail, whatsapp e outros canais. Manifestações até emocionadas, agradecendo pelo que tem sido feito em prol da comunidade brasileira e da cultura brasileira. Isso nos anima muito, nos deixa muito felizes. Foi muito trabalho, mas ao mesmo tempo a gente fica empolgado para tentar repetir no ano que vem.

Durante o evento teve a apresentação do Jujuba, a mascote da comunidade brasileira. O que essa mascote representa?
Desde o ano passado tenho tentado trazer o pessoal da Turma da Mônica, de Tóquio, porque eu fiquei sabendo que estavam preparando uma trupe de atores para representar a Turma da Mônica. Eles estão ensaiando, então ainda não foi possível. Também tentei trazer a mascote Ginga, do Comitê Olímpico Brasileiro. Tinha que pagar R$10 mil, trazer uma pessoa do Rio de Janeiro e pagar uma passagem internacional. Assim, achei que poderia ser uma boa ideia criar o nosso próprio mascote. Inicialmente, pensei em uma mascote da comunidade brasileira em Hamamatsu. Depois, a gente decidiu fazer uma coisa mais ampla: a mascote da comunidade brasileira no Japão. A ideia é que essa mascote possa participar de eventos em todo o país.

Conversei sobre a ideia da mascote com uma brasileira que mora em Hamamatsu, a Melissa, que tem 17 anos. Duas semanas depois, ela me surpreendeu com alguns desenhos e sugestões. Ela apresentou um nome muito sugestivo: Jujuba. No final, acabamos escolhendo a arara azul, que vive no Pantanal, na Mata Atlântica e na Amazônia, e é um animal ameaçado de extinção.

Agora, estamos correndo contra o tempo para confeccionar a versão habitável da Jujuba, que é a fantasia da mascote. Leva 45 dias para ficar pronta e estamos procurando patrocínios. Tenho dado entrevistas para jornais e rádios locais e as pessoas perguntam quando teremos a mascote. Tenho dito para todo mundo que vai ser na Copa do Mundo do Catar, no final de novembro.

Como você sabe, o Japão é conhecido, entre outras características, pelas suas mascotes. Eles têm mascotes para tudo, com vários significados e funções. Diante dessa tradição japonesa, surgiu essa ideia de fazer uma mascote representativa da comunidade brasileira. Acho que vai fazer muito sucesso.

A gente tem visto que o consulado tem trabalhado no sentido de apoiar a comunidade local de diversas formas. Há alguns anos foi fundada a Casa do Trabalhador Brasileiro. Hoje tem muita gente tentando buscar alternativas, começando a empreender. Como o consulado pode contribuir no estímulo ao empreendedorismo entre os brasileiros da região?
Eu estou aqui há um ano e meio e encontrei uma comunidade de 10 mil brasileiros em Hamamatsu, e 30 mil em Shizuoka. A grande maioria é formada por trabalhadores de fábrica. É uma comunidade muito trabalhadora. Criamos há algum tempo o Espaço do Empreendedor Brasileiro, que foi o sucessor da Casa do Trabalhador. O Espaço do Empreendedor Brasileiro é chefiado pela Vanessa Handa, com muita competência. Ela escreveu o Manual do Empreendedor Brasileiro no Japão, que dá o bê-á-bá de como empreender em terras nipônicas.

Muitos dos que estão na fábrica têm o sonho de criar o seu próprio negócio. Então, o consulado ajuda essas pessoas a percorrer o caminho das pedras, criar seu próprio negócio e empreender. Firmamos, no ano passado, uma parceria com o Sebrae. Vamos disponibilizar nas nossas plataformas dezenas de cursos de empreendedorismo do Sebrae.

Além disso, a gente tem um programa semanal chamado Conexão Empreendedora. Toda terça-feira, ao meio-dia, eu e a Vanessa entrevistamos uma pessoa que empreendeu e deu resultado.

Em julho, realizamos um seminário sobre empreendedorismo feminino no ramo alimentício. Tivemos mais de 50 pessoas participantes. Convidamos, também, a Chieko Aoki, que é uma das líderes do grupo Mulheres do Brasil, para vir a Hamamatsu. Fizemos um belo seminário com ela sobre empreendedorismo feminino, com cerca de 100 participantes. São formas que o Consulado tem de incentivar os brasileiros a empreender. É uma área que eu dou a maior importância e está dando certo.

O consulado também tem dado muita ênfase ao setor cultural. O que o senhor acha que isso traz de ganhos para a comunidade brasileira?
O consulado tem funções cartoriais. A gente dá passaporte, certidões, procurações, alistamento militar, dentre outros documentos. Quando eu cheguei aqui, eu me deparei com uma comunidade muito trabalhadora e vibrante. Senti que dava para trabalhar um pouco mais com essa comunidade e decidi fazer o que eu estou chamando de “algo mais”, o que vai além das funções consulares. Felizmente, nós temos uma equipe muito boa e muito bem preparada aqui no consulado que atende com muita presteza e eficiência a essa parte consular. Isso nos libera um pouco para criar coisas na área cultural.

Desde que cheguei, fizemos várias coisas. Organizamos um concurso de fotografias, no início do ano, intitulado “Um Olhar sobre a Comunidade Brasileira no Japão”. Tivemos 336 fotos de 78 participantes. Premiamos com dinheiro os três primeiros colocados e entregamos troféus para as melhores fotografias. Vamos fazer um livro e uma exposição com as cinquenta melhores fotografias. Também fizemos a exposição de arte “Panorama da Criação Contemporânea Brasileira em Hamamatsu”, na qual apresentamos os talentos locais, uma oportunidade para seis artistas brasileiros. Alguns nunca tinham participado de uma exposição. Quatro dos artistas trabalham em fábrica porque não conseguem sobreviver apenas do talento artístico deles. O consulado, ao mostrar a sua arte, está ajudando para que, no futuro, eles possam viver disso.

Também fizemos quatro edições do Bossa Brasil. Hamamatsu é a Cidade da Música no Japão e, a cada dois meses, mostramos aqui o melhor da música brasileira. Convidamos artistas, pagamos o cachê deles e a plateia paga o consumo da casa. A gente traz convidados especiais, formadores de opinião. Já estiveram presentes os prefeitos de Hamamatsu e de Kosai, os diretores da TV Shizuoka e do jornal Shizuoka Shimbun, reitores universitários, atletas renomados, políticos e empresários. Enfim, estamos fazendo muitos eventos culturais, procurando incrementar também a cooperação com as universidades locais.

Outro setor importante para a comunidade são as crianças e jovens. A gente teve as Olimpíadas Escolares, outros eventos também. O que a gente pode esperar daqui para frente para esse público?
Aqui na jurisdição temos nove escolas brasileiras com cerca de 1.100 alunos. Muitas vezes, eles não têm muitas atividades, não têm muito o que fazer no fim de semana. Por isso nós pensamos em fazer a Olimpíada Escolar Brasileira, que foi um grande sucesso. Conseguimos reunir, em Fukuroi, cerca de 700 crianças de 20 escolas brasileiras, vindas de oito províncias. Imagina você ver as crianças correndo, fazendo atletismo, salto em distância e outros esportes no estádio em que o Brasil ganhou da Inglaterra na Copa do Mundo de 2002? Todas as crianças ganharam medalha de participação. O Banco do Brasil mandou um diploma para todos que participaram. Foi um sucesso.

E já está tendo desdobramentos. Vieram me contar que o filho não fazia esporte e, agora, está correndo todo fim de semana. Não ganhou nada na Olimpíada passada, mas quer se preparar para o ano que vem. Isso é muito estimulante. Além disso, o mesatenista Hugo Hoyama, campeão brasileiro que veio para essa edição, já está fazendo contatos para trazer uma equipe de jovens do tênis de mesa para estagiar no Clube Infantil Esportivo de Tênis de Mesa de Toyoda, do campeão olímpico japonês Jun Mizutani. Também teremos um workshop de xadrez em novembro num Centro Comunitário de Hamamatsu com o enxadrista brasileiro Marcos Minamoto, que veio nos procurar depois das Olimpíadas. Ele acredita que é possível encontrar talentos nas escolas brasileiras e quer selecionar um grupo para participar do Campeonato de Xadrez do Japão no ano que vem.

O que a gente pode esperar de projetos para o ano que vem?
Ainda este ano, devemos seguir junto com a Embaixada no projeto para apresentar a literatura brasileira. Vamos trazer para Hamamatsu o Itamar Vieira Junior, autor do romance “Torto Arado”, que será lançado em japonês, como ocorreu com o livro “Nihonjin”, do Oscar Nakasato, no mês de julho. Estou tentando trazer alguns artistas plásticos do Brasil como o Darlan Rosa, de Brasília, e o Kinkas Caetano, que tem um trabalho muito bacana no estilo grafite. Também estamos nos organizando para levar para Tóquio uma exposição da Amanda de Godoy, talentosa artista de 15 anos, aqui de Hamamatsu, que é autista.

Quero trazer o grupo Choro Livre, de Brasília, que está com um programa muito interessante de internacionalização do choro pelo mundo. Quero trazê-los para o Brazilian Day ou para o Hamamatsu Jazz Festival. Aliás, já reservamos o espaço para o Brazilian Day, em setembro de 2023.

Estamos em contato com a equipe da Larissa Leal, medalha de prata na Olimpíada de Tóquio. Queremos fazer um encontro entre ela e a Momiji Nishiya, que ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de Tóquio. Seria um encontro, um congraçamento entre a campeã e a vice-campeã olímpica.

Enfim, são muitos os planos para o ano que vem. Claro que a gente vai precisar de apoio porque nossos recursos são muito escassos. Então, queremos contar não somente com a comunidade brasileira, mas, também, com empreendedores e patrocinadores.

Apesar de muito trabalho, me sinto feliz e realizado com o trabalho que estou conseguindo fazer em Hamamatsu e com o grande apoio que estou tendo de nossa comunidade.

- Publicidade -spot_img

Ver mais

O que você achou? Fale pra gente

Por favor, nos envie seu comentário
Por favor insira seu nome aqui

- Publicidade -spot_img

Artigos recentes