Angústia: sua importância e o que ela nos sinaliza

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É bastante recorrente na clínica a chegada de pacientes queixosos de algo que mal se consegue por em palavras. Para cada um de nós, o sintoma tem diferentes maneiras de se manifestar, uma dor no peito que vem e que vai, uma pressão inexplicável, falta de ânimo e vitalidade para fazer o que antes tinha disposição somadas a uma falta de interesse pela vida. Essas são manifestações do que geralmente nomeamos de angústia, esse sentimento de vazio que não conseguimos a priori descrever com precisão de onde e porque veio e como se faz para cessar.

 Nos inclinamos inicialmente a investigar as causas biológicas; recorre-se primeiro à medicina e às soluções medicamentosas, afinal, nossa defesa primária é se defender dela, contra atacá-la, sedá-la. Mas e quando são excluídas as causas orgânicas e os psicofármacos não fazem efeito e a angústia persiste? O que isso tem a nos dizer?

 Em nossa sociedade de consumo capitalista e que a ordem máxima é não parar, mas sim continuar operando a todo custo em uma lógica incessante de produção em meio ao bombardeio de demandas e enxurradas de informações, uma grande indústria se sustenta ofertando mecanismos para calar a angústia, das drogas lícitas às ilícitas e ao consumo desenfreado, mas para a Psicanálise, devemos justamente fazer o movimento contrário ao de tentar calar a angústia e sim nos permitir dar uma chance de ouvi-la.

 

 Mas por que tentar ouvir algo que dói? Pois a angústia é uma norteadora, ela nos indica sobre algo da própria subjetividade do sujeito que há muito tempo vem sendo negligenciada por uma série de razões intrínsecas à história pessoal de cada um. Podemos pensar que a angústia tem uma função em si, ela é um ponto de partida para dar início a uma investigação acerca de nós mesmos.

 

 A angústia é sim desestruturante, caótica e deixa a vida de pernas pro ar, mas é justamente nesse ponto que devemos olhar com atenção pois é aí que a angústia se manifesta tentando nos sinalizar sobre algo de nós mesmos que deixamos passar, ficou encoberto mas não perdido justamente pela sua importância, algo de nós que deseja mostrar-se. Para o psicanalista francês Jacques Lacan, a angústia é um afeto que não mente, onde ela aparece é aí que devemos nos interrogar e não anestesiar. Noto com bastante frequência na clínica pacientes que chegam ao seu limite de sofrimento e agonia psíquica para finalmente começar a olhar para si mesmo, e a minha orientação é: não deixe passar tanto tempo de sua vida para começar a viver avida que deseja.

 Pergunte-se: essa vida que vivo é minha ou eu deixei que a escolhessem por mim? E qual é a minha responsabilidade nisso? Partindo do raciocínio que as histórias mais difíceis de contar são aquelas que a gente não compreende e portanto sendo estas mesmas que provocam angústia, a psicanálise viabiliza a reconstrução de uma narrativa pessoal e consequentemente uma nova maneira de estar no mundo, possivelmente mais coerente consigo mesmo e com os seus próprios desejos.

 “Siga a sua angústia, ela é um bom caminho rumo a ti mesmo.”–Friedrich Nietzsche
Psicóloga
Andreia Miranda
CRP 05/36484
Psicóloga do Projeto Sakura
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