Localizada ao norte de Tóquio, a província de Tochigi ainda é pouco explorada pelos viajantes estrangeiros. Com exceção de Nikko, cidade que é repleta de templos e santuários tombados pela UNESCO, a região montanhosa raramente entra nos roteiros de quem visita o Japão. É uma pena. Tochigi tem muitas localidades que merecem ser conhecidas e tem a vantagem de não ficar muito distante de Tóquio.
Nasukarasuyama é um exemplo. A cidade de menos de 20 mil habitantes fica a cerca de 2 horas da capital japonesa. Além da produção do papel washi e das belezas naturais, Nasukarasuyama também é conhecida pela Shimazaki, uma fábrica de saquê pioneira no envelhecimento deste fermentado tipicamente japonês.
Normalmente, o saquê é produzido entre o final do outono e o início da primavera. Depois de extraída, a bebida pode ser ou não diluída e, em seguida, é colocada para descansar em garrafas ou tanques. Esse período de descanso é, em média, de um ano. Como princípio, quanto mais jovem o saquê, mais afinado será o seu sabor.
Acontece que, nas últimas décadas, alguns produtores iniciaram uma série de testes de envelhecimento de saquê e muitos deles estão chegando a resultados que têm agradado ao público. O saquê envelhecido é chamado de koshu. As técnicas e a duração do processo varia de produtor para produtor. Mas, de um modo geral, os resultados são bem parecidos. O saquê vai ganhando uma cor âmbar com o envelhecimento, além de notas de sabor e aroma que podem lembrar caramelo, mel, castanhas e shoyu.
Herança da guerra
Foi em 1970 que a Shimazaki iniciou o projeto de envelhecimento de saquês. A empresa decidiu aproveitar uma caverna que foi escavada nas montanhas de Karasuyama durante a Segunda Guerra Mundial para criar a sua cave. Ali, estão armazenadas, a uma temperatura constante de 10 graus, mais de 100 mil garrafas de saquê. A cave é aberta à visitação do público e uma visita ideal inclui, ainda, a degustação das bebidas no charmoso espaço dedicado a este fim, na fábrica que fica a uns dois quilômetros de distância.
Como a cave fica distante do centro da cidade, a dica é circular de bicicleta, que pode ser alugada no Yamaage Kaikan, um espaço dedicado ao festival tradicional da cidade, o Yamaage, que é realizado anualmente no quatro fim de semana de julho. Colorido e teatral, o evento é tombado com Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Sob duas rodas, é possível adicionar na rota outros pontos de interesse como as Quedas de Ryumon, uma pequena e charmosa cachoeira de 20 metros de altura e 65 de largura. Duas cavernas ficam no paredão de pedras da queda d’água. Diz a lenda que ali vive um dragão que atende aos pedidos dos visitantes. (Aliás, o nome da cachoeira pode ser traduzido como “portal do dragão”.)
Ao lado das quedas fica um pequeno café com iguarias locais e um santuário com um dragão enorme, para o qual você pode fazer suas preces. Além disso, o andar superior do prédio fica tem observatório com uma boa vista da cachoeira. Na área, não deixe de visitar, também, o Taiheiji, um templo budista com cara de abandonado e com um portal de madeira imponente.
Degustação
Para não beber de estômago vazio, a indicação dos locais é o Kamameshi Kasai, um restaurante especializado no kamameshi, um prato de arroz cozido e servido numa panela de aço chamada de kama. Os acompanhamentos vão de frutos do mar a legumes e verduras da estação, muitos deles colhidos na própria região.
Depois do almoço e antes da degustação, pode ser uma boa ideia dar uma olhada no Washi Kaikan, um espaço criado para a preservação de técnicas artesanais, incluindo a produção de papel. Com reserva, aliás, é possível aprender a fazer o washi, o delicado papel japonês.
Para a degustação dos saquês envelhecidos, e de outros produtos, a Shimazaki recebe os visitantes na fábrica que fica próxima ao centro da cidade. Neste caso, é importante lembrar que é proibido pedalar depois de beber. Por isso, vale a pena devolver a bicicleta antes da degustação. O Yamaage Kaikan não fica muito longe da fábrica.
Fundada em 1849, a Shimazaki recebe seus visitantes em um prédio de dois andares, todo de madeira. A loja fica no primeiro andar e é possível ver a variedade da produção que inclui licores como o yuzushu, que lembra um limoncello. O yuzu é um cítrico adorado pelos japoneses e a província de Tochigi, uma grande produtora da fruta.
A elegante sala de degustação fica no segundo andar e inclui um pequeno jardim. Aqui, o visitante é recebido pelo Shimazaki Ken’ichi, a sexta geração de produtores da empresa. Simpático, ele prepara uma degustação em quatro passos, acompanhada de um tira-gosto da casa: um cream cheese com borras de saquê, também disponível para compra.
Provar os saquês em diferentes estágios de maturação é uma experiência interessante e mostra que, mesmo pouco conhecida, a produção de koshu tem um pontencial enorme de trazer novos adeptos para o universo do saquê, bebida que ganha cada vez mais adeptos fora do Japão.
Roberto Maxwell viajou a convite da Nearby Tokyo e da Sake Voyage.
SERVIÇO
Como chegar?
Embarque na Linha Tohoku do trem-bala Shinkansen até Utsunomiya, de onde se faz a transferência para a linha de trens locais Karasuyama. Desembarque no ponto final, Karasuyama.
Yamaage Kaikan
9 às 16 horas, com a locação de bicicletas e as exposições e loja
Quedas de Ryumon + café
9 às 16 horas (café)
Kamameshi Kasai
11:30 às 14:30 e das 16:30 às 21 horas
Washi Kaikan
9 às 18 horas (fechado às terças-feiras)
entrada franca
www.fukudawashi.co.jp (em japonês)
Shimazaki Shuzo – cave
10 às 16 horas (A visita à cave é realizada aos sábados, domingos e feriados, entre março e dezembro, e em algumas datas de janeiro e fevereiro.)
¥200 (visita guiada com tablet em inglês ou japonês)
azumarikishi.co.jp (em inglês e japonês)
Shimazaki Shuzo – fábrica
9 às 17 horas
A experiência de degustação pode ser agendada através do site da Nearby Tokyo