Relaxe, nada está sob controle

Leitura obrigatória

Viviane Giroto
Viviane Girotohttps://vivianegiroto.com.br/
Viviane Giroto é especialista em psicopedagogia, psicomotricidade e Sciences et Techniques du Corps, formada pela  ISRP – Paris e Ph.D. em Psicologia pela UFRJ.

Essa afirmativa, embora seja um fato, costuma gerar desconfianças, no que se refere à nossa responsabilidade de fazer as coisas acontecerem com planejamento, tentando evitar erros futuros, nossos e dos outros. Contudo, nada pode mudar o fato de que não controlamos nada. Na melhor das hipóteses, somos bons estrategistas.

Já parou para pensar que ao planejarmos uma nova conquista, projeto, enfim, estratégias para realizar nossos planos, levamos pouco em consideração as nossas limitações e das pessoas envolvidas? A consideração de que não depende só da gente costuma gerar um desconforto, porque queremos controlar e, de certo modo, temos expectativas de superar as nossas vulnerabilidades. Assim, ao invés de assumirmos responsabilidades, assumimos a ilusão de que podemos controlar.

O controlador sofre terrivelmente ao assumir a posição de ter que dar conta de tudo e de todos, e a expectativa de que isso está em suas mãos faz com que ele se sinta, repetida e continuamente, muito insatisfeito consigo mesmo e com os outros, afinal, os outros, na visão do controlador, também poderiam ser controlados por ele.

Abrir mão do controle não significa deixar de ser responsável ou de lutar para que as coisas funcionem, significa abrir espaço interno para acolher aquilo que fugiu ao nosso controle como algo que poderia acontecer. Talvez a diferença entre responsabilidade e controle seja a forma com a qual reagimos diante do inesperado, desconhecido e não planejado. Para nos recuperarmos rapidamente de uma frustração e seguirmos em frente com as nossas responsabilidades, sem ferir e nem nos ferirmos, precisamos ter a compaixão e a autocompaixão do nosso lado.

A compaixão e a autocompaixão são muito importantes porque nelas cabem nossas limitações e as limitações das pessoas, e esta aceitação amplia a capacidade de agir em direção daquilo que desejamos com muito mais lucidez e menos desgaste. Compreender que errar e não ter realizado algo como desejávamos faz parte o tempo todo. Além de nos tornar mais flexíveis, isso nos dá a liberdade para seguir adiante mantendo o nosso propósito de conquista, fazendo os ajustes que experiências anteriores e fracassadas nos ensinaram.

Já pensou no tempo que gastamos remoendo, ruminando o que não deu certo e carregando a culpa de nossas falhas, as quais nos punimos indefinidas vezes por uma mesma situação? Relaxe, libere o criticismo e acolha a gentileza e a autogentileza.

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