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Empatia: linha divisória entre pessoas saudáveis e psicopatas

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Não desejamos causar sofrimento às pessoas, essa é a linha divisória entre pessoas saudáveis e não saudáveis, como os psicopatas. Mesmo assim, magoamos, somos magoados, prejudicamos e somos prejudicados. O que explica esse movimento involuntário de causar dor?

Na grande parte das vezes, isso ocorre por confusão da nossa própria mente. Quando ferimos alguém e quando nos sentimos feridos estamos vinculados a expectativas e medos que desencadeiam o sofrimento. Isso pode ser visto a partir das relações amorosas, por exemplo. Há dois universos individuais, mas desejamos que ele seja um e costumamos confundir nossos desejos e expectativas amorosas com as dos nossos parceiros, quando não ocorre essa convergência nós sofremos e costumamos entender que o outro é culpado pelo nosso sofrimento, quando na verdade ele é nosso.

Através da meditação Loving Kindness cultivamos essa abertura para entender o sofrimento como parte da condição de todos nós, e a partir dessa consciência, poder lidar com o nosso sofrimento de modo a não acrescentar mais dor a ele. Além disso, ampliamos a visão para enxergar o sofrimento do outro e agir com a intenção de ajudá-lo a superar, ou seja, nos tornamos mais compassivos.

Nós temos esse impulso natural de querer ajudar alguém que está em sofrimento, mas se estamos preparados para ajudar, por que não o fazemos? A causa principal para não agirmos de acordo com a nossa natureza compassiva é o nosso autocentrismo. O egoísmo é muito presente e estimulado na sociedade contemporânea, assim, focados em nossos próprios objetivos perdemos visão coletiva e a colaboração é afetada negativamente.

Por essa razão, a neurociência social, um novo campo neurocientífico que estuda os circuitos neurais da interatividade humana, demonstra que os circuitos neurais padrão nos conduz a ajudar, porque quando notamos a outra pessoa, automaticamente sentimos o que ela sente. Esses são os recém-descobertos neurônios espelho.

Contudo, se estamos concentrados em nós mesmos, nos nossos problemas, nas nossas preocupações, não enxergamos o outro de modo algum, e isso é antinatural e limita exponencialmente nossa sensação de bem-estar.

A indicação atual no campo da meditação laica ou secular é que possamos cultivar a calma individual, condição indispensável para dissipar as confusões mentais, o que se dá através do Mindfulness. Mas também precisamos cultivar os aspectos amorosos e gentis através da meditação Loving Kindness, aquela que amplia a nossa visão coletiva permitindo que a saúde floresça, já que é a empatia que nos difere dos maquiavélicos e psicopatas.

 

Viviane Giroto

Especialista em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Sciences et Techniques du Corps – ISRP – Paris, France

Ph.D. em Psicologia pela UFRJ

https://vivianegiroto.com.br/

As fases do luto

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A vida é inconstante, cheia de incertezas, imprevistos e contratempo. Por mais que tentamos ou achamos que temos controle sobre as coisas, a grande verdade é que não temos controle sobre quase nada. A morte está aí para nos mostrar isso, que tudo é finito e que todos nós estamos aqui de passagem. Mas por mais que tenhamos a certeza de que um dia a morte chegará, vivemos ignorando este fato como forma de nos proteger de futuros sofrimentos e, consequentemente, quase nunca estamos prontos para lidar com ela. No entanto, quando algum conhecido, amado, amigo ou familiar morre, nos deparamos com a dor de perder alguém querido e o luto é a consequência desse sofrimento.

O que muitas pessoas não sabem é que o luto é uma vivência importante para o processo de elaboração e aceitação das perdas. É uma forma da pessoa conseguir lidar com a dor de perder algo ou alguém amado e querido. O luto não só acontece mediante o falecimento de alguém, ele também pode acontecer quando se rompe um relacionamento, quando se perde um vínculo afetivo ou o trabalho, por exemplo.

A pessoa em luto costuma entrar em um estado de recolhimento, ficando mais retraída, introspectiva, triste, tendo crises de choro, se recusando a sair de casa, não aceitando a situação ou perdendo o interesse em atividades que antes amava. Ela também pode cometer excessos como consumir muita bebida alcoólica, dormir demais, comer demais ou quase não se alimentar ou então não expressar nenhum sentimento se mantendo “fria” mediante a situação. Dessa forma, ela pode sentir um conjunto de emoções e expressá-las de maneiras diversas, pois cada pessoa reage e lida com o luto de maneira singular, dependendo da sua personalidade, experiências de vida e capacidade de lidar com as emoções. Cada pessoa vai ter a sua maneira e tempo para lidar com o luto.

No entanto, para nos ajudar a compreender o processo do luto, a psiquiatra suíça-americana, Elisabeth Kübler-Ross, descreveu o que ela chamou de cinco fases no luto, sendo elas: negação, raiva, barganha ou negociação, depressão e aceitação.

Na negação, a pessoa nega que o outro morreu, ela não acredita nem quer acreditar na possibilidade de ter perdido um ente querido, então ela rejeita a realidade.

Na fase da raiva, surgem sentimentos negativos como angústia, desespero, medo, culpa, frustração e raiva. A pessoa costuma ficar mais agressiva e manifestar a raiva por meio de atitudes autodestrutivas, como beber exageradamente ou brigar com as pessoas.

Na barganha ou negociação, a pessoa enlutada negocia consigo mesma ou com Deus algo que possa fazer para a pessoa amada voltar, mesmo tendo consciência da impossibilidade disso, ela alimenta esse pensamento para consolar a si mesma. Pensamentos como “e se eu tivesse feito isso” ou de “se eu fizer X coisa, posso reverter a situação” fazem parte desta fase.

A quarta fase, a depressão, a pessoa é acometida por um grande sofrimento, se apegando à dor causada pela partida do ente querido. Na última fase do luto, a aceitação, a pessoa compreende a sua nova realidade e consegue conviver pacificamente com a perda. Neste momento, o enlutado consegue se lembrar da pessoa que partiu com carinho e ser grato por ela ter participado de sua vida.

Essas fases do luto não são lineares e podem acontecer em ordens diferentes, mas é importante a pessoa passar por elas e viver o seu luto para não ter de viver em luto pelo resto vida. Então respeite o seu processo, respeite o processo do outro, as nossas dores levam tempo para cicatrizar.

Juliana Fernanda de Barros é psicóloga (CRP 06/11635) do Projeto Sakura desde 2016.

Problemas judiciais no japão

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Você sabia que discussões, gestos agressivos e brigas podem resultar em problemas judiciais no Japão e até mesmo em detenção?

O Código Penal Japonês entende os insultos, ameaças e agressões físicas como crimes, com possível condenação ao pagamento de multas ou a penas de privação de liberdade.

Os insultos, por exemplo, são considerados crimes que ofendem a honra e equivalem ao que chamamos de injúria no Brasil. Geralmente, são expressos por palavras ou gestos ofensivos a alguém, com exposição de opiniões que desqualificam e expressam insolência ou desprezo, como os xingamentos. Até mesmo gestos podem ser considerados insultos. Assim, levantar e mostrar o dedo médio para alguém ou para várias pessoas pode ter consequências sérias, a depender do contexto em que isso aconteceu, se o gesto foi acompanhado de palavras e postura ameaçadora, se houve testemunhas e provas. Quando uma pessoa ofendida busca a Polícia, pode-se iniciar um inquérito policial para averiguar os fatos ocorridos e, se necessário, um processo criminal terá início. Pode ser que tudo se resolva com um acordo entre as pessoas envolvidas, com o pagamento de uma quantia de reparação à pessoa ofendida e assinatura de um termo se comprometendo a não repetir o ato delituoso. Caso contrário, o problema poderá arrastar-se por anos, causando transtorno e incômodo aos envolvidos.

De maneira ainda mais grave, qualquer ameaça feita à vida, à liberdade, à integridade física, à honra ou à propriedade de alguém pode ser enquadrada como crime de ameaça e será submetido à apuração dos acontecimentos por policiais. A depender das investigações, o caso será encaminhado para a Promotoria, responsável pela acusação. Eles então vão decidir se uma multa de até 300 mil ienes poderá ser o bastante para resolver o inconveniente causado à vítima ou se é necessário seguir adiante, apresentando uma denúncia para a Corte Criminal. Nesse caso, quem ameaçou estará sujeito a receber uma pena de até 2 anos de prisão. E isso se a ameaça não tiver sido consumada, caso contrário, a situação fica ainda mais séria!

Nesses tempos de interações mediadas pela internet e pelas redes sociais, vale a pena atentar-se para mensagens eletrônicas que podem ser interpretadas como ameaças online! Apesar de muitos se sentirem protegidos e escondidos pelas telas e teclados, as autoridades policiais têm meios muito eficazes para desvendar ameaças cibernéticas e estão cada vez mais empenhadas em punir tais comportamentos.

Por fim, é importante notar que qualquer tipo de agressão física, mesmo “leve”, pode levar ao indiciamento e denúncia para a corte criminal. A pena pode chegar a 2 anos de prisão, multa de 300 mil ienes e uma advertência. De acordo com o sr. Etsuo Ishikawa, advogado parceiro do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio, aqui no Japão a agressão é tomada em sentido amplo, não somente quando há contato físico. Assim, o ato de cuspir em alguém, por exemplo, também poderá ser considerado uma agressão. O advogado ressalta ainda o perigo de revidar agressões. Mesmo que uma outra pessoa tome a iniciativa de insultar você primeiro, ou venha a provocá-lo, ameaçá-lo, agredi-lo, ou caso você queira apenas defender um amigo que se envolveu numa confusão, ações que no Brasil são tidas como “legítima defesa” têm grandes chances de complicar a situação para todos os envolvidos. Diante de uma agressão ou de uma ofensa, o caminho seguro é chamar uma autoridade policial o mais rapidamente possível e formalizar o ocorrido, sem revidar, deixando que as autoridades policiais tomem as devidas providências.

Se for necessário, dirija-se ao posto policial (KOBAN) mais próximo ou use o telefone de consulta geral da Delegacia de Polícia para consultar sobre crimes e prevenção a crimes. Algumas organizações sem fins lucrativos ou ONGs de apoio aos estrangeiros também oferecem serviços de consulta gratuita. Os Consulados brasileiros no Japão também estão habilitados a aconselhar sobre a forma de agir e oferecem atendimentos de orientação jurídica gratuitos. Quanto aos problemas jurídicos que exigem representação judicial, as consultas também podem ser feitas no Ho Terasu (Centro Japonês de Apoio Jurídico, uma agência governamental independente) ou nas Ordens de Advogados regionais. Para maiores informações, consulte também a Associação de Intercâmbio Internacional da Prefeitura mais próxima.

 

João de Mendonça Lima Neto

Cônsul-Geral do Brasil em Tóquio.

Assumiu o Consulado-Geral do Brasil em Tóquio em fevereiro de 2018.

Graduou-se em filosofia e economia pela Universidade de Sofia nos anos 70 e serviu como diplomata na Embaixada em Tóquio nos anos 90.

Como Embaixador, serviu em Hanoi e Abu Dhabi e como diplomata em Paris, Assunção, Londres e Xangai.

Seu hobby é fotografia.

Publicou vários livros e textos.

Um lámen Michelin fora da rota

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Alguns bairros a gente só visita mesmo em ocasiões muito especiais. É o caso de Minami-nagasaki, uma tranquila área residencial na linha suburbana Seibu Ikebukuro, em Tóquio. No pequeno shotengai — rua comercial — adjacente à estação, no segundo andar de um prédio que só se destaca do entorno por ser uma construção mais contemporânea, fica o Kane Kitchen Noodles, citado no Guia Michelin 2021 na categoria Bib Gourmand.

O prato assinatura do local é um lámen de shoyu, feito com um blend de diferentes molhos de soja, uma característica já comum na produção de tigelas neste estilo. A base da sopa é feita com frango e mariscos, ambos muito bem representados no sabor, num bom balanço com o molho de soja e com um pouco de vegetais para trazer frescor. Sopa e massa — gostosa e bem cozida — fazem uma boa combinação.

Das coberturas, todas bem feitas, o destaque fica para o char siu de frango, muito macio e suculento. O ovo cozido também é bem feito, com sabor leve, mas como todo o resto do prato, sem surpresas.

Sendo assim, o que mais me chamou a atenção no espaço e em sua comida foi o fato de um restaurante com um trabalho que podemos chamar de bom — e apenas isso — estar numa lista de tanto destaque, numa metrópole com lámens de tamanha excelência e qualidade. O atendimento é bacana, simpático. Já o espaço, muito limpo, parece um pouco decadente, embora seja possível ver que houve um restaurante elegante num passado não muito distante.

Quando visito um restaurante que me deixa essa impressão, procuro outras resenhas para entender em que pé ando em compasso com pessoas que gostam tanto de lámen quanto eu e, de fato, vi que muitos comensais, japoneses e estrangeiros, gostam muito do lámen do Kane Kitchen. Mas, da minha parte, apesar da refeição não ter sido nada desagradável, surpreendente mesmo foi ter ido até Minami-nagasaki atrás deste lámen. Talvez demore um tempo até que eu visite o bairro novamente.

SERVIÇO

Kane Kitchen Noodles
Tokyo-to Toshima-ku Minaminagasaki 5−26−15 Machiterasu Minaminagasaki2F-A [mapa]

UT Suri-Emu – Empresa de Recrutamento no Japão

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Segunda  09:00 AM – 05:00 PM

Terça        09:00 AM – 05:00 PM

Quarta      09:00 AM – 05:00 PM

Quinta      09:00 AM – 05:00 PM

Sexta        09:00 AM – 05:00 PM

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Hamamatsu recebe mais uma edição do Bossa Brasil

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O palco do Bossa Brasil recebe, no próximo dia 10, os cantores Roberto Casanova e Mika da Silva. Organizado pelo Consulado-geral do Brasil em Hamamatsu, o evento mensal tem como objetivo promover a integração entre brasileiros e japoneses através da música e da gastronomia.

Lançado no dia 12 de novembro, o projeto recebeu em sua primeira edição o Duo Sammity, formado pela cantora japonesa Michiko Watanabe e pelo violonista e cantor brasileiro Samuel Fujimura. Segundo a organização, o evento inaugural atraiu personalidades e empresários de Hamamatsu, conhecida como a “Cidade da Música” pelos japoneses. Com uma população de quase 800 mil habitantes, Hamamatsu é o maior município da província de Shizuoka e abriga a maior população verde-e-amarela dentre as cidades do arquipélago. Quase 10 mil habitantes de Hamamatsu são brasileiros.

Hamamatsu recebe mais uma edição do Bossa Brasil

Roberto Casanova é conhecido da comunidade brasileira por ter sido, em 2009, campeão do Nodojiman, uma competição de cantores amadores de todo o país. Mesmo sem falar japonês à época, o brasileiro encantou os jurados e o público da emissora pública NHK com seu carisma e talento musical. Depois do concurso, Casanova lançou discos e continua se apresentando com um repertório de músicas japonesas e brasileira. Já a japonesa Mika da Silva é apaixonada pela música brasileira e se tornou conhecida no Japão como intérprete de MPB. A artista venceu o Press Awards como melhor cantora japonesa de música brasileira no Japão por três vezes. Mika e Roberto são casados.

Além da parte musical, o evento conta com o Cachaça Corner, no qual os visitantes podem degustar cachaça e caipirinha gratuitamente.

O evento vai ser realizado no dia 10 de dezembro, às 19 horas, na Cervejaria Mein Schloss, no centro de Hamamatsu. A entrada é franca, mas o consumo no restaurante da casa é obrigatório.

 

SERVIÇO

Bossa Brasil em Hamamatsu
evento musical
data: 10 de dezembro de 2021
horário: Início às 19 horas
local: Cervejaria Mein Schloss (Hamamatsu Beer)
endereço: Hamamatsu-shi, Naka-ku, Chuo 3-8-1
reservas pelo telefone 053-452-1146
traje: casual

Lámen ao natural

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Minami-oi é um bairro que fica nas cercanias da estação de Omori, uma região relativamente fora do radar dos turistas estrangeiros. O único “atrativo” da região costumava ser o Aquário de Shinagawa, tipo de espaço que eu parei de visitar porque me dá dó ver os bichos ali confinados. Mas ali fica uma das casas de kakigori que eu mais gosto em Tóquio, a Necogoori, e foi assim que eu tive contato pela primeira vez com o Homemade Ramen Muginae.

Meu companheiro de jornada lamenística, o chef Carlos Fukuy, que me apontou o espaço, ainda antes de iniciarmos a lista Michelin. Estava fechado. Depois dessa visita, eu não conto mais nos dedos as vezes em que comi no Necogoori e, mesmo com a intenção de fazer a dobradinha lámen + kakigori, bati com a porta na cara do Muginae. Já acabei até parando na casa irmã, que fica a uns 10 minutos de distância a pé, o gostoso Aomugi.

A pequena fila na porta me dava alguma esperança de entrar mas a lista de reserva no cavalete que fica na entrada me dizia um sonoro “não”. Então, vai a primeira dica: se quiser visitar o Muginae, chega cedo. O restaurante libera a lista na porta às 9 da manhã. Quando cheguei por volta das 11:30, o horário mais cedo disponível era 14:05. O espaço é pequeno? Sim. Mas não é só isso. O Muginae é incrivelmente popular e há uma razão para isso.

Para ser justo, bom deixar claro que a primeira delas é que o lámen é realmente excepcional. A casa oferece dois tipos de lámen somente: shoyu e niboshi/iriko, com sopa feita com base em filhotes de sardinha secos. Fui neste último, que é um ingrediente bem mais difícil de controlar, já que seu sabor é forte e marcante. Pedi a versão tokusei (especial), com todos as coberturas possíveis. Por incrível que pareça, o sabor da sopa é rico em umami, com notas de azeite de oliva que não é adicionado diretamente o caldo mas, sim, na feitura do iriko, o qual é banhado em um salmoura feita com folhas de oliveira.

Kuroge Wagyu Meshi, arroz com cobertura de carne de boi marmorizada japonesa (foto: Roberto Maxwell)

A massa, por sua, vez é delicada na textura e saborosa ao paladar, um verdadeiro agradado produzido diariamente na casa, justificando o “home made” do nome. Já as coberturas são um espanto. A começar pelo cubinho de carne marmorizada wagyu, que aparece com gordura suficiente para fazer presença no prato, mas no tamanho certo para não ser enjoativo. A carne bovina faz um belo par rosadinho com o char siu de porco, cozido lentamente por imersão em água, um ponto que costuma assustar o pessoal por aqui. (Me consultei com um especialista que me explicou que a carne é preparada num termocirculador e por isso conserva a cor rosada, embora esteja completamente cozida.) Suculenta e muito saborosa, a carne de frango completa a tríade de proteínas animais da tigela, presente em fortes e no recheio do wonton. Na parte vegetal, a alga seca traz ainda mais umami, enquanto o broto de bambu menma vem com uma doçura delicada e toques de cebola e cebolinha comprida trazem crocância e frescor. A surpresa vem por conta de pequenos pedaços de amêndoa.

Dito isso, vem a cereja do bolo. O Muginae é um restaurante que tem uma preocupação extra: oferecer uma comida completamente livre de conservantes e aditivos químicos. Por isso, utiliza ingredientes muito bem selecionados, de produtores que compartilham a mesma forma de pensar. Sendo assim, a casa estampa com orgulho o fato de trabalhar somente com ingredientes naturais. Tudo num ambiente bem inclusivo, acessível aos estrangeiros, com menu em inglês. Comer em um dos nove lugares do Muginae, sob os olhos do chef Akihiro Fukaya, foi uma das melhores experiências desta aventura que tem sido provar os 20 lámens citados no Guia Michelin 2021. Hoje categorizado como Bib Gourmand, se seguir como está, o Muginae não deve demorar muito a ganhar a sua estrela.

SERVIÇO

Homemade Ramen Muginae
Tokyo-to Shinagawa-ku Minamioi 6-11-10 [mapa]

Budismo e psicologia

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O Budismo surgiu na Índia e logo se expandiu pelo Oriente, especialmente na China, Japão e Tibet. Seus fundamentos foram formulados pelo primeiro Buda, Sidarta Gautama, que nasceu no ano 623 a.C. O objetivo dos ensinamentos deixados por Buda é superar o sofrimento, dukka, também traduzido como insatisfatoriedade. Essa insatisfação ocorre, sobretudo, porque nos apegamos àquilo que nos faz bem e sofremos terrivelmente quando perdemos o que nos mantinha em condições satisfatórias.

Por essa razão, costuma-se dizer que o desejo seria a causa do sofrimento, mas na verdade é o apego, ou seja, atribuímos valor a uma situação que nos faz feliz e, consequentemente, passamos a temer a dissolução desse contexto favorável. Essa alternância entre alegria e tristeza permeia toda a nossa existência.

Para superar o sofrimento, segundo o budismo, precisamos ter a experiência de si, que se dá de forma mais profunda e sensível através da meditação. A prática meditativa nos leva a conquistar maior liberdade em relação aos nossos próprios condicionamentos, abrindo caminho para a transformação dessa experiência de um lugar menos vulnerável. Esse lugar nos permite reconhecer a interdependência e a impermanência de todos os acontecimentos e de todos os seres, de modo a nos reposicionar com mais criatividade e (auto) compassividade em relação a eles.

O autoconhecimento como forma de autotransformação aproxima o budismo da psicologia e, por essa razão, são muitos os estudos* que tratam dessas similaridades.

Por exemplo, ambos os campos de saberes estão ligados às práticas, entendidas como meios de intervir na realidade, de modo a encontrar formas mais efetivas para lidar com os problemas.

A premissa de que é mais importante a maneira com que lidamos com os fatos, do que os fatos em si, corresponde aos objetivos desses dois campos de saberes distintos.

Nesse sentido, busca-se em ambas as abordagens práticas, formas mais espontâneas e menos rígidas de experenciar a vida, ampliando a visão de si e do horizonte existencial.

Mesmo considerando as diferenças, podemos afirmar que tanto a meditação quanto a psicologia buscam a redução do sofrimento através do autoconhecimento, visando a transformação e a conquista de uma existência mais livre.

*Sobre a aproximação entre a psicologia ocidental e o budismo ver Mark Epstein.

Lámen fulgurante com estrela Michelin

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Quando o Tsuta recebeu a primeira estrela Michelin dedicada a um restaurante de lámen, as reações foram diversas. Por um lado, os puristas disseram que o guia estava decadente e, portanto, buscando meios de chamar a atenção para um negócio que via sua relevância indo por água abaixo, em especial por conta dos mecanismos de avaliação de restaurantes como o Yelp. Mas teve gente que viu um movimento de deselitização que já vinha colocando em cheque a pompa e a circustância que envolvem a alta gastronomia. No ano seguinte, os críticos e comensais mais dedicados estavam ansiosos para saber se a casa perderia sua estrela e ocorreu algo ainda mais inesperado: não só o Tsuta manteve sua estrela como uma nova entrada foi registrada, com o Sosakumen Kobo Nakiryu.

Isso foi em 2017, faz uns anos que o Tsuta nem é citado no Guia mas o Nakiryu segue firme e forte, não só com a estrela mas, também, no coração dos fãs. Minha visita foi no início da tarde de um domingo chuvoso. A fila estava “dobrando o quarteirão” o que, no caso, quer dizer que se quebrava na esquina e seguia do outro da rua. Como sempre despreparado para intempéries, fui socorrido pelo trabalhador do restaurante que vinha constantemente anotar quantas pessoas estavam na fila. Ele me trouxe um elegante guarda-chuva preto. Omotenashi que diz, né?

Depois de quase uma hora na fila, pude me sentar no balcão do restaurante. A equipe trabalha em silêncio, embalada por uma estranhíssima trilha de versões bossa nova do Guns’n’Roses. (Bossa nova, Guns’n’Roses… Juro que fiquei imaginando o Johnny Massaro vivendo o Exterminador do Futuro numa versão meio Ipanema, meio Chapéu Mangueira. )

Trilhas à parte, o lámen que chega à mesa é à prova de distrações. O prato-assinatura da casa é o Tantanmen, um lámen picante. Não sou exatamente um fã de pimentas, então fui de Shio, sal, na versão “tokusei”, ou seja, com todas as coberturas possíveis. Além disso, pedi o char siu gohan, arroz com o porco marinado da casa. Na primeira tragada da sopa já é possível entender porque o Nakiryu é um restaurante de tanto sucesso. O umami é predominante neste lámen com base em mariscos e outros frutos do mar. Leve mas com personalidade. A massa, finíssima, também é um primor, do ponto ao paladar. Daí entram as coberturas que são o ponto forte do prato. O porco marinado com um ponto de cozimento sensacional, resistência à mordida sem ser duro e um sabor que nos leva à China. Do mesmo modo, o wonton de camarão com o recheio muito bem preparado. Ali dentro daquela simples massa recheada estava um camarão que poderia muito bem ser parte de um prato de qualquer restaurante de alta gastronomia.

Lámen fulgurante com estrela Michelin
Além do lámen, a casa serve outros pratos como este com arroz e carne (foto: Roberto Maxwell)

Essa riqueza de sabores e detalhes explica bem o fato do Nakiryu ter recebido — e mantido — a estrela Michelin e, por mais que o guia hoje esteja sujeito a muito mais críticas do que antes, não se pode negar sua importância dentro da indústria e como referência para pessoas que não moram no Japão e não têm acesso às excelentes e mega especializadas publicações de gastronomia, com críticos que não só atuam no país como conhecem a fundo a cena de restaurantes de Tóquio, uma tarefa hercúlea. Para vocês terem uma ideia, o Nakiryu até aparece nas listas da TRY, por exemplo, revista que elenca os melhores lámens de cada ano por categoria. Mas nem de longe a casa é unanimidade. No fundo, as listas dizem algo sobre a cena, mas dizem muito mais sobre si mesmas. Ainda assim, são uma excelente curadoria que não deve ser desprezada. No mais, para mim foi uma experiência imensa ter provado os 20 lámens destacados no guia. Hoje posso dizer que conheço um pouco melhor o panorama toquiota deste prato que não tem glamour, mas é uma genuína representação da gastronomia popular contemporânea da maior megalópole do planeta.

SERVIÇO

Sosakumen Kobo Nakiryu

Tokyo-to Toshima-ku Minamiotsuka 2−34−4 SKYMinamiotsuka [mapa]

Saber dizer não

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Alguma vez você já se viu fazendo algo contra sua vontade por “não saber” dizer não? Já mentiu para as pessoas com quem se relaciona, como inventar compromissos ou desculpas, toda vez que não queria fazer algo que era solicitado, com receio de magoar o outro, ou por medo do que o outro pudesse pensar a seu respeito? Já deixou de dizer não, a fim de agradar os outros, deixando de lado seus compromissos? Saiba que esse comportamento pode ser prejudicial e até levar a questões psicossomáticas.

É uma característica do ser humano o desejo de se sentir aceito e de evitar situações em que possa ser rejeitado. Por isso, o receio de frustrar as expectativas de alguém é, em certa medida, natural, contudo existe um limite entre se doar e o completo se anular, dizendo “sim” para tudo. São várias as possíveis origens desse comportamento, uma delas é a autoestima baixa e a história de vida, algumas pessoas ficam presas ao rótulo de boazinhas, de maneira que ao falar “não”, acabam se vendo em situação de constrangimento, pois aquela resposta não era esperada. Dizer sim para o outro, quando essa resposta não está de acordo com o que quer, é dizer não para os próprios desejos, o que pode levar a uma angústia, ansiedade, se desdobrando em diversos problemas de saúde física, mental e emocional.

Perceber que tem esse hábito é o primeiro passo, buscar entender o que te leva a dizer sim, analisar e trabalhar emocionalmente tal questão, torna a mudança de atitude mais consciente e duradoura. Também é importante compreender que você é o protagonista da própria vida e tem direito de falar não, e isso pode não ser tão catastrófico quanto a sua fantasia (a respeito do que o outro vai pensar/sentir). Aprender a colocar limites saudáveis e dizer “não” quando realmente quer, descobrir quais sentimentos positivos o “não” pode também trazer ajuda. É possível começar com pequenas ações no cotidiano, com pessoas que tenha mais facilidade em dizer não, sem se sentir desconfortável, e assim ir ganhando mais segurança para dizer não em situações maiores. Isso o tornará uma pessoa mais sincera consigo mesma, consequentemente trazendo mais estabilidade emocional.

Vanessa Lima é psicóloga (CRP 08/27797) graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), tem pós-graduação em Gestalt Terapia pelo Instituto Gestalt de Curitiba.