Cercadas de arte por todos os lados

Conheça as duas pequenas ilhas de arte do Mar Interior de Seto

Leitura obrigatória

Roberto Maxwell
Roberto Maxwellhttp://www.tokyoaijo.com
Radicado no Japão desde 2005, atua como produtor de conteúdo multimídia e acumula trabalhos como repórter, documentarista, produtor e palestrante. Apaixonado por viagens, dedica-se a percorrer o arquipélago e registrar suas maravilhas e contradições.

Com suas águas de cor de esmeralda e ilhas de natureza elegante, o Mar Interior de Seto é conhecido como o “Mediterrâneo Japonês”. Projetos de arte contemporânea se espalharam pelas ilhas da região nas últimas décadas, trazendo possibilidades econômicas além da indústria, que por décadas contribuiu para a degradação da natureza local.

Teshima, a ilha “rica”

Vista do mar a partir de Teshima (foto: Roberto Maxwell)

Cerca de 20 minutos de barco separam Naoshima de Teshima. Das três “ilhas de arte”, Teshima foi a que sofreu mais profundamente com a questão industrial. Uma parte da ilha foi utilizada como depósito de lixo altamente contaminante por muitos anos, resultando em sérios problemas ambientais, que chegaram a atingir o lençol freático e, por consequência, o recurso pelo qual a ilha é conhecida: a água.

Em japonês, Teshima quer dizer “ilha abastada”, justamente pela pureza e abundância da água. A população organizada conseguiu arrancar da província de Kagawa, da qual a ilha faz parte, um acordo de descontaminação. O processo durou décadas e ainda não foi encerrado totalmente. Foi nesse meio tempo que o projeto de arte chegou a Teshima, criando uma janela para o futuro, fora da atividade industrial, e propiciando visibilidade e recursos para projetos de retomada da atividade agrícola, que inclui plantio do arroz, de hortaliças e cítricos.

Natureza e arte

Teshima é considerada por muitos a mais bela das três ilhas de arte do Mar de Seto. Montanhosa, a ilha tem uma costa recortada, com belas paisagens em que a natureza se mescla com as casinhas dos pescadores.

O principal centro de arte da ilha é o Museu de Arte de Teshima. A construção é um projeto colaborativo entre o arquiteto Ando Tadao e a artista Naito Rei e é, em si mesmo, uma instalação artística. Naito criou um ambiente em que discretos jatos de água desafiam as leis da física na enorme arena de concreto que forma o prédio. É uma poderosa obra contemplativa.

Museu de Arte de Teshima (foto: Roberto Maxwell)

Outras obras se espalham pela pequena ilha. Na Zona do Porto de Ieura, entre as residências locais, fica a Casa Yokoo foi restaurada pela arquiteta Nagayama Yuko e abriga obras do artista Yokoo Tadanori. Elementos o cinismo pop do artista fazem um forte contraste com o projeto original da construção, gerando um estranhamento interessante.

Já na outra ponta da ilha, a cerca de 20 minutos de caminhada do Porto de Karato, ficam os Arquivos do Coração, uma instalação do francês Christian Boltanski com gravações de batimentos cardíacos de pessoas de diversas partes do mundo. Boltanski também contribui com outra obra, no caminho para o pico do Monte Dan, chamada A Floresta dos Sussurros.

No vilarejo que se formou na encosta da montanha que dá pro Porto de Karato ficam outras obras, dentre elas o Shima Kitchen, uma antiga casa restaurada que funciona como restaurante e serve uma comida no estilo bistrô com ingredientes da ilha.

Refeição no Shima Kitchen (foto: Roberto Maxwell)

Charmosa e acolhedora, a pequena ilha pode ser visitada de bicicleta. Mas, cuidado. Teshima é montanhosa e, mesmo com a bicicleta elétrica, as ladeiras podem ser pesadas para quem não têm o hábito de se exercitar.

Inujima, pequena pérola

Menor das três ilhas de arte, Inujima tem cerca de 100 habitantes. Como Naoshima e Teshima, a ilha também foi usada na exploração mineral e na produção industrial. Uma usina de fundição de cobre foi aberta no local no século 19, os primórdios da industrialização do Japão. Acontece que a instalação não conseguiu ser competitiva na produção do metal e acabou sendo abandonada. Depois de décadas, suas ruínas acabaram incluídas na lista de Patrimônio da Industrialização Japonesa e, por isso, preservadas. Em 2008, as ruínas passaram a fazer parte do projeto de arte capitaneado pela Benesse em outras ilhas e se transformou no Museu Inushima Seirensho.

Para não descaracterizar as ruínas, a área de exibição do museu fica no subsolo e traz obras do artista Yanagi Yukinori, com projeto do arquiteto Sambuichi Hiroshi. Uma das inspirações para o projeto foi o escritor Mishima Yukio (de “Cores Proibidas”). O autor era uma das vozes mais críticas ao processo de modernização do Japão e ganhou uma instalação em sua homenagem.

Inujima também tem uma área de arte nas antigas casas, como em Naoshima e Teshima. São 6 pontos de interesse dentro da pequena vila de pescadores, que podem ser visitados calmamente a pé. Além disso, o Inujima Life Garden, criado em torno de uma antiga estufa desativada, foi criado como um espaço para integrar visitantes e locais, com atividades sobre a natureza da ilha e agricultura, dentre outros temas.

TESHIMA

Como chegar? Teshima fica a cerca de 20 minutos de barco de Naoshima e de Shodoshima. Do Porto de Uno, de onde também partem barcos para Naoshima e Shodoshima, a viagem até Teshima dura cerca de 40 minutos. O Porto de Uno fica a cerca de 40 minutos de Okayama de trem, pelas linhas JR Setouchi e Uno.

INUJIMA

Como chegar? O acesso direto a Enoshima é feito pelo Porto de Hoden, que fica a menos de 90 minutos da estação de Okayama. Do Porto de Miyanoura, em Naoshima, alguns horários de barca conectam a ilha à Inushima, via Porto de Ieura, em Teshima.

 

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