O trem-bala Shinkansen é uma das maiores conveniências de quem viaja pelo Japão. São quase 2.765 km de trilhos cortando três das quatro principais ilhas do arquipélago japonês em nove linhas. Com trens que trafegam a velocidades de até 300 km/h, o Shinkansen é o meio mais eficaz de transporte para distâncias médias. Além da rapidez no trajeto, o trem-bala permite o embarque e o desembarque dentro das cidades, desbancando em praticidade a velocidade do avião.
Poucas províncias do Japão têm mais estações do Shinkansen que Shizuoka. Lideram a lista Iwate e Niigata, com sete estações cada. Cortada pela Linha Tokaido, a mais movimentada do trem-bala no Japão, Shizuoka tem seis estações: Atami, Mishima Shin-Fuji, Shizuoka, Kakegawa e Hamamatsu. Nesta edição, o Guia JP seleciona para você as melhores atrações do entorno das estações do Shinkansen na província. Embarque com a gente nesta viagem em alta velocidade.
ATAMI 熱海駅
Águas quentes e belas vistas
Atami é a estação do Shinkansen mais próxima a Tóquio. Desde tempos imemoriais, se conhecem fontes de águas termais na região. Descoberta há cerca de 1.300 anos, a Hashiryu é a mais antiga delas. Diz-se que, antigamente, as águas esguichavam da montanha e corriam para o mar e, por isso, ganharam o nome pelo qual a fonte é conhecida até os dias de hoje. “Hashiriyu” quer dizer “águas termais que correm”.
Atualmente, a água naturalmente aquecida é transportada até os hotéis e ryokans da região através de um encanamento que corre por dentro de uma caverna de cinco metros de profundidade. Diz-se que 7 mil toneladas de água termal passam pela tubulação todos os dias. A caverna é considerada uma área de reverência porque, no passado, os japoneses diziam que ela era a boca de um dragão que esguichava a água. Visitantes não podem se banhar diretamente na água do Hashiriyu, mas escalda-pés foram construídos na área e podem ser usados gratuitamente.
Quem passa por Atami no Tokaido Shinkansen percebe a existência de um longo túnel. Isso acontece porque a cidade fica espremida entre o mar e a montanha. Por isso, muitas atrações da localidade ficam no alto de colinas e morros. Uma das mais conhecidas é o MOA, Museu de Arte de Atami. O espaço foi criado para abrigar as obras do famoso colecionador Mokichi Okada e contém peças japonesas e ocidentais, incluindo trabalhos de caligrafia de diversas épocas. O espaço conta ainda com um jardim japonês, uma casa de chá e um teatro nô.
Uma viagem de 35 minutos de ônibus partindo da estação leva ao Jukkoku Toge, uma colina cujo topo é acessível por um teleférico. De lá, é possível ter uma vista panorâmica em 360 graus da Baía de Sagami, da Floresta de Pinheiros de Miho, da Baía de Suruga e, claro, do Monte Fuji.
MISHIMA 三島駅
Sombra, aventuras e água fresca
A poucos minutos de distância de Atami, a estação atende às cidades geminadas de Mishima e Numazu. Conhecida como cidade das águas, Mishima foi construída em cima de um fluxo de lava que permitiu a formação de um lençol freático de águas cristalinas vindas do Monte Fuji e das montanhas em seu entorno. Por isso, o Rio Genbei é de grande importância para os locais.
A cerca de 30 minutos da parada fica o Mishima Skywalk, uma ponte pênsil de 400 metros de extensão, considerada a maior do seu estilo voltada para o trânsito de pedestres no Japão. Da ponte é possível ter uma vista privilegiada do Monte Fuji em meio à natureza exuberante da localidade.
Outra opção são os passeios de Segway ou buggy na Floresta das Aventuras, que fica em uma das pontas da ponte. Mas o legal mesmo é descer na tirolesa armada paralelamente à construção, com a vista estonteante do Fuji.
SHIZUOKA 静岡駅
Teatro nô em paisagem de ukiyo-e
Uma das áreas relacionadas ao Monte Fuji registradas como Patrimônio da Humanidade fica na cidade de Shizuoka, a cerca de 30 minutos da estação de trem-bala da cidade. Miho-no-matsubara é uma zona litorânea de cerca de 7 km, margeada por 30 mil pinheiros de um lado e o mar azul do outro. A vista do vulcão foi registrada por diversos artistas, inclusive o mestre do ukiyo-e Hiroshige Utagawa.
O Hagoromo-no-matsu é um dos pontos de destaque do local. Diz a lenda que foi ali que um pescador encontrou uma echarpe (hagoromo) presa ao galho de um dos pinheiros (matsu). O homem pegou a vestimenta e, sentindo que era valiosa, decidiu levá-la e vendê-la para arrecadar algum dinheiro que o ajudasse a sustentar a família. Num dado momento, uma criatura etérea em forma de mulher surgiu declarando que era a dona da echarpe e pedindo-a de volta. O pescador se recusou a devolvê-la, no que a mulher alegou que era uma espécie de anjo e que só poderia voltar para o reino dos céus com a echarpe. Com pena, ele decidiu devolver com a condição que a mulher dançasse para ele. Ela alegou que só poderia dançar com a echarpe. Com medo de ser enganado, o homem perguntou à criatura se ele poderia confiar nela.
— A mentira é uma realidade do mundo humano, disse a mulher.
Envergonhado, ele entregou a echarpe para a criatura divina e ela começou a dançar da forma mais bela que ele viu, sumindo aos poucos, na direção do Monte Fuji. Com isso, o homem ficou apenas com a lembrança daquele encontro e da dança que nenhum outro mortal tinha visto antes.
A história é encenada no local em outubro, na forma de teatro nô. A performance é ao ar livre e à luz das tochas, embora não seja gratuita. O evento faz parte do Hagoromo no Matsuri, que rola na primeira semana do décimo mês.
Além do espetáculo, a região é excelente para caminhadas ou bicicletadas, com a vista onipresente do Monte Fuji.
SHIN FUJI 新富士駅
Paraglider e, claro, Monte Fuji
Como o nome já anuncia, esta é a estação do Shinkansen mais próxima do Monte Fuji. Por isso, todas as atividades possíveis têm algo a ver com a maior montanha do Japão. Embarcando no ônibus que sai da frente da estação, é possível ir até Fujinomiya, onde ficam as principais atrações turísticas da região. Um bom passeio por ali pode começar pelo Mt. Fuji World Heritage Centre, uma espécie de museu futurístico com informações sobre o vulcão mais conhecido da Ásia.
A instituição fica num prédio que é uma obra de arte em si mesma. Construído como um cone de ponta cabeça, a obra forma um belo conjunto com um espelho d’água e a montanha ao fundo. Mas o espaço não é só bonito. A exposição no interior é bem interessante, mostrando o Monte Fuji sob diversos aspectos, incluindo o cultural e o geológico. De quebra, o espaço tem uma bela vista da montanha no terraço.
Não muito longe dali fica o Santuário Monte Fuji Sengen, considerado o portal de entrada do Monte Fuji. O local é muito visitado na primavera quando as flores de cerejeira formam um belo conjunto com o vulcão ao fundo.
Quem tiver mais tempo pode embarcar em atividades de turismo de aventura, muito populares na região. A Escola de Paragliding de Asari Kogen, por exemplo, é uma oportunidade para quem quer ter uma vista excepcional do Fuji. É possível saltar só ou com um instrutor.
KAKEGAWA 掛川駅
Chá, pássaros e castelo feudal
Já da estação é possível ver, no alto de uma pequena colina, o Castelo de Kakegawa. Construído originalmente no século 15, a fortificação passou por diferentes estágios e formatos até ser destruída no século 19, quando o Imperador Meiji derrubou o xogunato Tokugawa e, com ele, todos os castelos que conseguiu. Nos anos 1990, o castelo foi reconstruído, mas diferente de outros casos, usando como material principal a madeira, como no original. No local da torre reconstruída funciona um museu que, junto com o palácio que era usado como residência e fora poupado, formam um conjunto que conta um pouco da história da região.
Dentro da área do castelo fica, ainda, uma casa de chá em que é possível provar o produto mais conhecido da região. No espaço, é servido o matchá com docinhos, da forma tradicional japonesa.
Outro local que costuma fazer sucesso é o Parque das Aves de Kakegawa. No espaço, pássaros de diversas regiões do planeta são criados em áreas que representam os biomas. Das florestas tropicais ao Polo Sul, os animais estão em exposição e, em alguns casos, também podem ser alimentados e interagir com os visitantes.
HAMAMATSU 浜松駅
História na beira do lago
A algumas estações de trem normal partindo de Hamamatsu fica o Lago Hamana, no entorno do qual várias atrações fazem da maior cidade da província de Shizuoka um lugar aprazível de turismo a céu aberto. Na estação Bentenjima, o pôr do sol fica muito mais bonito com o portal torii construído na água. Seguindo para o norte, à beira do lago fica Kanzanji Onsen, uma estância de águas termais com um teleférico que proporciona uma bela vista do local.
Pouco exploradas, no entanto, são as atrações históricas da região. Próximo à estação Mikkabi da linha Tenryu Hamako fica o Makaya-ji, um templo fundado no século 8. O templo é dedicado à deusa Kannon, com imagens que datam da época da fundação do espaço e não estão acessíveis ao público. O jardim, no entanto, é considerado o mais antigo da província de Shizuoka, com a construção tendo sido finalizada em algum momento do século 12. O jardim de pedras é considerado um dos mais belos do país.
Também em Bentenjima fica outro ponto histórico da cidade. Este remete à época do xogunato Tokugawa, quando os senhores feudais eram obrigados a viajar entre seus domínios e Edo a cada dois anos. Para receber as comitivas ilustres, dezenas de pontos de paragens foram construídos ao longo da Tokaido, a estrada que ligava a antiga Tóquio e Kyoto. O Maisaka Shiku Waki Honjin era uma espécie de acomodação para funcionários de baixo escalão das comitivas. O prédio do século 19 é um convite aos viajantes de hoje para conhecer a vida dos viajantes do passado.