Para nós, brasileiros, a palavra meditação está intimamente ligada a uma ideia religiosa. Não é para menos. A prática chegou até nós através dos japoneses e de seus descendentes, muitos deles praticantes do budismo. Nesta religião, meditar é um meio de atingir o nirvana, um estado de iluminação advindo da clareza que, usando uma metáfora dos ensinamentos budistas, apaga os três fogos: o apego, a aversão e a ignorância.
Praticante de ioga há 30 anos, Viviane Giroto conhece bem os fundamentos orientais. Inicialmente graduada em direito, a mariliense adotada pelo Rio de Janeiro tem dedicado a sua vida às questões sociais brasileiras. Estudando e convivendo com as mazelas das comunidades carentes cariocas, Viviane conhece de perto o efeito perverso das desigualdades sociais na vida de adultos e, principalmente, crianças. Em busca de meios de aliviar o sofrimento causado pela pobreza, acabou se encontrando com a psicossociologia, um campo científico dedicado a usar conhecimentos da psicologia para lidar com as dores causadas por problemas sociais. Assim, viu sua carreira dar uma guinada. A psicologia passou a ser seu foco principal de estudos tendo se dedicado a diversas pós-graduações na área, obtendo títulos de mestre e doutora.
Foi há sete anos que Viviane começou a perceber que poderia casar a experiência com as práticas orientais e o trabalho com causas sociais. Estudiosa, ela começou a fazer leituras sobre a aplicação da meditação fora do âmbito religioso e a desenvolver formas de trazer a prática para suas atividades sociais. Foi assim que Viviane desenvolveu um projeto de meditação em escolas públicas de comunidades da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Em poucas palavras, a meditação é uma prática que visa treinar a atenção e a consciência de modo a atingir um estado de clarificação e equilíbrio da mente. Até bem pouco tempo, a palavra “meditar” em língua portuguesa era frequentemente usada como sinônimo de “reflexão”. Na verdade, a meditação propõe justamente o oposto. O treino da atenção visa estancar a profusão de pensamentos através do foco em uma única coisa, que pode ser uma imagem ou a própria respiração.
Ao trazer a meditação para o campo das terapias, profissionais como Viviane fazem com que o paciente encontre alívio para o sofrimento através da suspensão de ideias. “Mesmo que o movimento da mente não pare com a meditação, mas se a pessoa consegue só observar, ela ganha potência, tanto de inteligência quanto de regulação emocional”, explica ela.
Prática com resultados
Segundo Viviane, os efeitos da prática são rápidos. Em oito semanas já é possível sentir a diferença. “O cérebro muda, tanto anatomicamente quanto em questão de conexões cerebrais. As áreas de prazer ficam ampliadas. É uma revolução”, diz.
As práticas seculares de meditação, chamadas muitas vezes de mindfulness, começam com a dedicação de alguns minutos por dia para “se diferenciar dos pensamentos”. “No pensamento, a gente cria muitas invenções que a gente confunde com a realidade”, ensina Viviane. “A gente tem desejos e expectativas. Ao criar a realidade na nossa cabeça, a gente acaba ‘puxando a sardinha’ para aquilo que a gente quer”, prossegue a pesquisadora. Para ela, estas distorções da realidade são a causa do nosso sofrimento e nos induz a erros. A meditação leva, então, a um caminho de consciência, livre dos condicionamentos que desenvolvemos quando forjamos a realidade em nossas cabeças.
Para difundir o conhecimento adquirido com suas pesquisas para um público mais amplo, Viviane decidiu criar uma conta no Instagram. Ali, ela apresenta conceitos de forma simples, conduz práticas de meditação online e dá orientações gerais. Além disso, ela faz atendimentos como psicopedagoga e terapeuta, atividades que concilia com a pesquisa científica e as aulas na pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica, uma das mais conceituadas universidades do Rio de Janeiro.
Apaixonada pelo Japão, Viviane ainda não teve a chance de conhecer a Terra do Sol Nascente. “Sou fascinada”, conta ela, que tem um sonho de visitar o país. Oportunidades para meditar e contemplar não faltarão, com certeza.