Seu Nome? Chiune Sugihara.
(Aqui abrimos uma janela ao conteúdo de guia de passeio para relatar uma história fantástica. Gostaria de deixar claro que não queremos com este texto, esgotar o assunto, muito menos sermos parciais aos lados da história. Pretendemos somente relatar um ato humanitário e prestar uma singela homenagem, replicando um ato heroico feito por um cidadão japonês nascido justamente na região onde produzimos o conteúdo de passeio desta edição).
Para descrever essa história, gostaria de contextualizar o antissemitismo e as consequências dele durante a segunda guerra mundial.
Em primeiro lugar, o que é antissemitismo?
Segundo o Wikipédia, é o preconceito ou hostilidade contra judeus baseada em ódio contra seu histórico étnico, cultural e/ou religioso. Na sua forma mais extrema, “atribui aos judeus uma posição excepcional entre todas as outras civilizações, difamando-os como um grupo inferior e negando que eles sejam parte da(s) nação(ões) em que residem”. A pessoa que defende este ponto de vista é chamada de “antissemita”.
O ano era 1933, Adolf Hitler assume o poder sendo nomeado a Chanceler da Alemanha, ciente de que somente com o FANATISMO seria possível a realização de sua almejada conquista, segundo relatou a dois editores americanos em 1931, contou com a ajuda da então SA (Sturmabteilung), uma força paramilitar nazista conhecida como “Os camisas pardas”, estes exerciam funções como levantes, protestos, perseguição a judeus e apoio incondicional a Hitler, uma milícia de baderneiros com um propósito claro: Fazer pressão política.
Com esse apoio e nomeado chanceler, Hitler resolve acabar com os partidos opositores, prender inimigos políticos e finalmente, acabar com a SA assassinando seus líderes em uma única noite, conhecida como “A noite das facas longas”. O motivo era simples; os “bagunceiros” da SA não representavam o que ele esperava para o grande Império Alemão.
No lugar da SA entra a SS (Schutzstaffel) organizada para ser a tropa de proteção pessoal de Hitler. Mais disciplinados, elegantemente vestidos com uniformes desenhado por Hugo Boss e muito bem treinados. Estes sim, selecionados com o critério de raça pura, estariam, segundo Hitler, aptos a servi-lo na conquista do “Terceiro Reich”, termo cunhado pela propaganda do regime nazista na Alemanha, e que tinha como objetivo demonstrar a grandeza do projeto de Hitler para transformar seu país em uma incontestável potência mundial.
Nesse momento, Hitler tinha o controle da Alemanha e a Mão de Ferro. A partir de 1935, sua popularidade crescia vertiginosamente, pois agiu no principal problema alemão do momento, o desemprego. Buscando resolver dois problemas de uma só vez, abriu vagas na indústria, no serviço paramilitar, resolvendo assim o social e o de alistamento, desrespeitando o tratado de Versalhes (acordo imposto à Alemanha para o fim da primeira guerra mundial), esse resolvendo a falta de militares).
Nesse mesmo período, os Estados Unidos vendia armas à Alemanha e China (inimigo japonês declarado), além de enviar técnicos e pilotos para treinamento do exército chinês. Esse abastecimento, era visto na ocasião como uma provocação clara ao Japão.
Em 1936 Alemanha e Japão firmam o pacto Anti-Comintern, onde ambas as nações se comprometeram a tomar medidas para se protegerem contra a ameaça da Internacional Comunista.
Na Alemanha e países anexados e simpatizantes, a perseguição a judeus se intensificava; durante os anos de ascensão de Hitler, eles tiveram seus direitos revogados, crianças não poderiam ir às escolas de não judeus, seguro saúde era proibido, não tinham direitos políticos, houve boicotes aos seus comércios e haviam constantes maus tratos nas ruas. Alguns estabelecimentos exibiam placas com a seguinte mensagem: Proibido cães e judeus. A esperança nazista era que eles simplesmente fossem embora. Para os que tentavam se mudar, quase nenhum país do mundo os recebia.
Um jornal alemão, certa ocasião, divulgou a seguinte manchete: Judeus a venda, quem os quer? Ninguém!
Com exceção da República Dominicana, nenhum país oferecia asilo àquele tipo de refugiado. Uma certeza estava batendo à porta de centenas de milhares de judeus naquele momento, os campos de concentrações que outrora recebia somente presos políticos, agora os receberia também. Era o início de uma das maiores vergonhas que a humanidade presenciou, o HOLOCAUSTO JUDEU.
Em 1 de setembro de 1939 a Alemanha invade a Polônia, Reino Unido e França declaram guerra à Alemanha; dois dias depois, está iniciada a guerra na Europa.
Neste mesmo ano, o Japão envia um homem chamado Chiune Sugihara como vice cônsul ao consulado japonês em Kaunas – Lituânia; dentre suas funções estava: relatar sobre as movimentações das tropas soviéticas e alemãs, descobrir planos de ataque alemão sobre a União Soviética e também relatar detalhes dos ataques aos seus superiores em Berlin e Tokyo.
Devido a ocupação Soviética em territórios lituanos, muitos refugiados judeus vindo da Polônia e mesmo os judeus da Lituânia, tentavam vistos de saída do país. Sem visto era muito perigoso viajar e estava cada vez mais difícil encontrar países dispostos a fornecê-los.
Nesse período, centenas de refugiados buscavam por visto no consulado japonês na Lituânia. Naquele momento, o governo japonês permitia vistos a quem preenchia a todos os requisitos de imigração e dinheiro suficiente para se manter no país. Tarefa quase impossível à maioria dos solicitantes. Sugihara consultou o governo japonês por três vezes a respeito desse assunto, que foi enfático: não concederemos vistos para trânsito no país, sem exceções.
De 18 de julho a 28 de agosto de 1940, consciente do perigo que os judeus corriam se não deixassem a Lituânia, Sugihara decidiu emitir vistos por conta própria. Ele ignorou os requerimentos e emitiu vistos de dez dias para judeus transitarem no Japão, violando assim ordens claras.
Ainda conversou com oficiais soviéticos, que concordaram em vender bilhetes aos refugiados para que viajassem pelo país via Transiberiana, porém, pagando cinco vezes do valor normal.
Sugihara continuava emitindo vistos durante 18-20 horas por dia, produzindo diariamente o que produziria em um mês normalmente, até 4 de setembro quando precisou deixar seu posto, antes do fechamento do consulado.
Naquele momento ele já havia concedido milhares de vistos, muitos deles concedendo às famílias que entrassem no Japão.
Algumas testemunhas relataram que em seu caminho para o hotel e depois até o embarque de trem, ele seguiu emitindo vistos a refugiados desesperados por deixar aquele caos.
Naquele momento, já quase sem papéis oficiais de visto e muito cansado, ele dizia as pessoas: “ Por favor me esqueçam, não consigo mais, desejo o melhor a vocês”. Alguns em meio a multidão gritavam, senhor Sugihara, nunca o esqueceremos, desejamos encontrá-lo um dia!
Sugihara disse posteriormente que não tem uma ideia exata de quantos vistos foram emitidos naquela situação, um número estimado é de aproximadamente 6.000 famílias. Estima-se que aproximadamente 40.000 descendentes de judeus estão vivos atualmente graças a ele.
Sugihara recebeu algumas condecorações após esse ocorrido, porém ele e sua família foram presos políticos durante um ano e 6 meses na Romênia. Foram soltos em 1946, quando retornaram ao Japão. Em 1947, o governo solicitou que ele renunciasse a seu cargo devido a necessidade de economia do país. Fontes extra oficiais, incluindo sua esposa, acredita que essa solicitação se deva “àquele” ocorrido na Lituânia, mas são somente suposições.
Após sua demissão, Sugihara teve pequenos trabalhos para sustentar sua família incluindo vender lâmpadas de porta em porta.
Em 1968, um judeu de nome Yehoshua Nishri, um contato econômico da embaixada Israelense em Tokyo e beneficiário de um dos vistos emitidos por Sugihara, finalmente o localizou e o contatou.
No ano seguinte, Chiune foi a Israel que o reconheceu e agradeceu pelo seu esforço, condecorando-o com o (Righteous Among the Nations), título dado a não judeus que ajudou judeus durante o holocausto.
Em 1985, 45 anos após a invasão soviética a Lituânia, Sugihara foi questionado sobre suas razões na emissão dos vistos, ao que respondeu:
“Este é o tipo de sentimento que qualquer pessoa deveria ter frente a frente a um refugiado, implorando em lágrimas nos olhos. Você não pode só ajudá-los, mas solidarizar-se com eles. Dentre os refugiados, haviam mulheres, velhos e crianças. Estavam tão desesperados que vinham beijar meus pés. Sim, na verdade testemunhei essa cena com meus próprios olhos. Senti também que naquele momento o governo japonês não tinha uma opinião uniforme. Alguns militares japoneses estavam assustados por pressão nazista, enquanto outros, simplesmente ficaram neutros. As pessoas em Tokyo não estavam unidas e eu seria um idiota em concordar com eles. Eu não pensei naquele momento o que eles estariam pensando e sabia que isso poderia me trazer alguma consequência futura, mas aquilo era o certo a ser feito. Não há nada errado em salvar muitas vidas. O espírito humanitário, filantropia e amizade, me motivaram a fazer o que fiz confrontando uma situação de extrema dificuldade como esta, minha coragem dobrou”.
Caso queira saber mais sobre essa fascinante história, recomendo Visas for Life de Yukiko Sugihara esposa de Chiune Sugihara, mas infelizmente ainda não traduzido para o português e também pode-se visitar o Chiune Sugihara Memorial Hall, em Kamo-Gun, Yaotsu chō, Gifu.
http://www.sugihara-museum.jp/index_en.html