Osaka costuma confundir a cabeça de quem visita o Japão. Nem era para ser assim. Como no caso de São Paulo e do Rio de Janeiro, a palavra Osaka é usada para se referir à província (o equivalente aos estados do Brasil) e à sua capital. Província de Osaka, capital Osaka: simples assim.
Tanto a província quanto a cidade são potências econômicas do Japão. O Produto interno bruto provincial representa uma fatia de 4% do PIB do país e é equivalente ao da Noruega. A cidade, por sua vez, tem um PIB equivalente ao da Nova Zelândia. E isso não vem de hoje! Historicamente, Osaka sempre aparece como uma das áreas mais vibrantes do país. Mercadores construíram a reputação de Osaka para a circulação de bens e serviços, algo que dura até os dias de hoje.
Sabendo isso, alguém pode imaginar que os osaquenses são gente sisuda e que vive para o trabalho. Mas esta é uma definição que passa longe do espírito da cidade e da província. O povo de Osaka é tido como alegre, descontraído e muito bem humorado. Aliás, muitos humoristas e músicos de sucesso são da província, que tem uma vida cultural agitadíssima. A noite de Osaka também não decepciona. Mas nenhuma característica fala mais do povo local do que a paixão pela gastronomia. Come-se muito e bem em várias localidades da província.
Nesta edição, o JP Guide te dá dicas para conhecer atrações imperdíveis na sua viagem pela província de Osaka. Vamos nessa?
Comendo até cair na capital
Qualquer pessoa que segue no Instagram algum brasileiro que vive no Japão vai encontrar ali alguma foto de Osaka. Nossos patrícios adoram a cidade e são muitos os motivos para isso. Diferente dos toquiotas, mais sérios e formais, os osaquenses são abertos e divertidos. São traços de personalidade que se refletem no ambiente. A cidade de Osaka, por exemplo, é barulhenta, colorida e até um pouco caótica. São características que acabam caindo bem aos brasileiros, que costumam ser expansivos.
Dotonbori é a epítome do jeito osaquense de ser. Esta zona comercial da cidade é formada por calçadões e atrai milhares de pessoas todos os dias. Nas margens do canal que corta Dotonbori, funcionam restaurantes e alguns deles costumam até ter mesas do lado de fora, o que é pouco comum no Japão. Aqui fica um dos marcos do bairro, a roda gigante da loja de departamentos Don Quijote. Bem, roda é mesmo jeito de falar porque, diferentemente do que conhecemos, em Dotonbori o negócio tem o formato de um retângulo com as bordas curvadas.
Esta não é a única extravagância de Dotonbori. À noite, brilham no canal os luminosos de neon que fazem Osaka parecer uma concepção dos 60 do que seria uma cidade do futuro. No entanto, as luzes escondem um mundo ainda mais interessante, formado por restaurantes que oferecem o melhor da gastronomia popular de Osaka como o okonomiyaki, o kushikatsu, o fugu e, claro, o takoyaki, tão popular no Japão quanto a coxinha.
A relação dos osaquenses com a comida é intensa. Em Osaka, a expressão kuidaore define. A palavra é formada pelos caracteres para comer (食) e cair (倒) e, portanto, quer dizer “comer até cair”. Num primeiro olhar, a ideia mais clara que a palavra trás é encher o bucho até tombar. Porém, os locais enxergam um significado mais profundo: o de comer ao ponto de gastar todo o dinheiro que se tem. Portanto, se você é do tipo que se aventura gastronomicamente, tenha cuidado com o bolso. São tantas opções de restaurantes e comidas gostosas que mesmo os locais reconhecem que calha de você gastar todo o orçamento da sua viagem em comida, sem ter saído de Osaka. Seguem algumas dicas de pratos que você não pode deixar de provar quando for visitar Osaka.
Ao seu gosto, okonomiyaki
Uma espécie de panqueca super turbinada, o okonimiyaki é um dos pratos-assinatura de Osaka. Tão extravagante quanto a cidade em si, este rango esconde uma origem humilde. Popularizada no pós-guerra, a massa quase líquida feita de farinha era uma opção num momento em que o arroz era caro demais ou difícil demais de conseguir. Colocada para cozinhar numa chapa quente, a massa aceita o que você tiver como cobertura. Daí o nome do prato. “Okonomi” quer dizer “ao seu gosto” e “yaki”, “grelhado”. Carnes, vegetais, frutos do mar, tudo orna com a panqueca que leva ainda um molho próprio, adocicado e toneladas de maionese, flocos de bonito katsuobushi, alga nori em tiras e gengibre. Um dos melhores okonomiyaki de Osaka é o do Kiji, que fica na área conhecida como Shin-umeda, no entorno das estações centrais de trem da cidade.
Kiji
Osaka-fu Kita-ku Kakudacho 9−20, subsolo do Shin-umeda Shokudogai
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Espetinho de… tudo

Localizado no agitado bairro de Namba, a matriz do Sakura é considerada um dos melhores restaurantes de kushiage da cidade.
Diz-se que o kushikatsu surgiu em Osaka no final dos anos 1920, quando a proprietária de um pequeno restaurante no bairro de Shinsekai começou a oferecer espetinhos de carne empanada, fritos por imersão. Kushi é o palitinho, o espeto; katsu é o empanado. O sucesso veio rápido. Pudera. Também chamados de kushiage (a segunda parte lê-se “ague”, que quer dizer fritura por imersão), os espetinhos eram uma forma barata e rápida de comer com satisfação. Atualmente, os kushikatsu são feitos com qualquer coisa: peixes, verduras, legumes e outros pratos também entram na roda, ou melhor, na fritadeira. Mas não confunda o kushiage com o yakitori, o espetinho de frango grelhado no carvão.
Localizada no agitado bairro de Namba, a matriz do Sakura é considerada um dos melhores restaurantes de kushiage da cidade.
Sakura – Matriz
Osaka-fu Osaka-shi Chuo-ku Namba Sennichimae 9-12
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Prazer que é risco de vida

Esta espécie de baiacu muito popular entre os japoneses possui uma substância potencialmente letal em várias partes de seu corpo.
O fugu apavora. Esta espécie de baiacu muito popular entre os japoneses possui uma substância potencialmente letal em várias partes de seu corpo. Removê-las corretamente requer conhecimento e prática e, por isso, somente cozinheiros e vendedores licenciados podem manusear o ingrediente. Em Osaka, o peixe é apelidado de “teppo”, uma palavra que significa “arma”, numa brincadeira com o potencial de letalidade do bicho.
No entanto, o sistema de controle funciona. São quase inexistentes os casos de acidentes com carne de fugu e a esmagadora maioria dos que ocorreram nos últimos 20 anos rolaram entre pessoas sem experiência em limpar o peixe que o pescaram e consumiram. Versátil, o fugu pode ser servido cru (como sashimi), frito, empanado e cozido. As ovas também são consumidas e consideradas uma iguaria.
Em Osaka, um dos restaurantes de fugu mais conhecidos é o Fugutenjin.
Fugutenjin
Osaka-fu Osaka-shi Kita-ku Sonezaki 1-7-13
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“Coxinha” de polvo
Se nós amamos de paixão as coxinhas de galinha, os osaquenses nutrem o mesmo sentimento pelo takoyaki. Ambos têm características em comum: são bolinhos com recheio e são extremamente populares. As semelhanças param aí. O takoyaki é feito com uma massa líquida que fica bem mais leve que a da coxinha. O recheio é de polvo, um animal não muito popular entre os brasileiros.
Além disso, o takoyaki é grelhado em um utensílio próprio, que tem o mesmo princípio de uma torradeira só que com compartimentos em formato de meia lua no qual vários bolinhos são produzidos ao mesmo tempo. Aliás, ver o preparo do takoyaki já é uma experiência em si mesmo.
Encontrar um bom lugar para comer o bolinho de polvo em Osaka nem é difícil. Mas se você quiser uma dica, o Tako Tako King tem cinco lojas na cidade. A matriz fica em Shinsaibashi, outro bairro que vale super a pena explorar.
Tako Tako King Matriz
Osaka-fu Osaka-shi Chuo-ku Higashi Shinsaibashi 2-4-25 1o. andar
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Off-Osaka
O entorno de Osaka é cheio de cidades de diversos portes e muitas delas têm coisas interessantes para fazer. Veja algumas dicas:
Folhas de outono em Minoo
A menos de 30 minutos de trem do centro de Osaka, Minoo é o primeiro refúgio dos osaquenses quando eles estão cansados do caos urbano. Trata-se de um vale florestado com uma trilha que leva a uma cachoeira de cerca de 30 metros de altura. Trilha é modo de falar já que o caminho é bem pavimentado e bastante plano. No outono, quando as folhas das árvores decíduas começam a ficar amareladas ou vermelhas, o local atrai milhares de visitantes. Nesta época do ano, alguns restaurantes locais servem o momiji tempurá. Neste prato, as folhas de carvalho, símbolos do outono, são empanadas e fritas. Outro ponto que merece a visita é o Ryuanji, um belo templo budista no meio do caminho da trilha de 3 km entre a estação e a cachoeira.
Parque Minoo
estação onde começa a trilha: Minoo, na linha Hankyu Minoo[mapa]
entrada franca
Catacumbas antigas em Sakai
Kofun é o nome dado aos túmulos megalíticos dos séculos 3 a 6 da era cristã, encontrados em várias partes do centro e do sul do Japão. A palavra em si significa “túmulo antigo”. A mais impressionante destas catacumbas, que ocupa uma área de quase 3 km de circunferência, pode ser encontrada em Sakai, uma cidade-dormitório densamente povoada nos subúrbios de Osaka.
Visto do alto, o Daisenryo Kofun parece uma ilha em formato de fechadura cercada por um fosso de águas esverdeadas. Estudos indicam que o Daisenryo foi construído para ser a última morada do imperador Nintoku, que reinou no século 6. Indicam porque o espaço é considerado sagrado pela Família Imperial japonesa e entrar na ilha em si não é permitido. Ainda assim, é possível passear na floresta que se formou no entorno do túmulo, além de visitar o Museu Municipal de Sakai, que fica logo em frente e conta a história do local ou o que se sabe de lá. E bem no entorno do museu ficam pelo menos outros quatro sítios arqueológicos.
Daisenryo Kofun – Museu Municipal de Sakai
Osaka-fu Sakai-shi Sakai-ku Mozusekiuncho 2 Chome [mapa]
Obs.: O local está em obras até março de 2021. Uma parte do museu é acessível ao público durante este período, de forma gratuita.
Um festival selvagem
Se tem um festival que é a cara de Osaka é o Kishiwada Danijiri Matsuri que rola no mês de setembro, no fim de semana antes do feriado de Reverência aos Idosos. Danjiri são santuários móveis, em formato de carros alegóricos de 14 metros de altura e 400 kg, que circulam levando as divindades para um passeio pela comunidade. Como estamos falando de Osaka, pode levar fé que este não vai ser um passeio monótono.
Para fazer as curvas nas estreitas ruas de Kishiwada, os danjiri são puxados em um arranque só pelos jovens rapazes pelas esquinas, num autêntico estilo Velozes e Furiosos. E como se já não bastasse em termos de aventura, os participantes viajam no teto dos danjiri num passeio que só perde para os dos surfistas de trem que eram populares no Brasil nos anos 1980. Adrenalina pura!
Surgido no início do século 18, o festival de Kishiwada é só mais popular entre uma série de eventos com danjiri que rolam na província de Osaka entre setembro e outubro.
Kishiwada Danjiri Matsuri
data: meados de setembro, no fim de semana anterior ao feriado de Reverência aos Idosos
local: a parada dos danjiri rola entre a estação de Kishiwada e o castelo da cidade [mapa]