Na semana passada falamos sobre algumas novidades e lançamentos deste início de ano, na CP+ Camera & Photo Imaging Show 2018. Deu para perceber as tendências para um futuro bem próximo. É claro que, se basear nos números da indústria fotográfica, qualquer pessoa pode chegar à mesma conclusão sobre o futuro da fotografia, pelo menos em termos de equipamentos. Conforme o relatório da CIPA (Camera and Imaging Products Association), a tendência que vem sendo notável desde 2013, foi mais uma vez confirmada em 2017. Como já era esperado, a quantidade de produção de câmeras mirrorless tem aumentado (+32%) e o de câmeras DSLR tem diminuído (–9%). Em 2013, as mirrorless representavam apenas 5% do total de vendas de câmeras, as DSLR 21% e o restante 74% de câmeras não-reflex. Em 2017, as mirrorless representaram 16,4% do total, contra 30% de DSLR e 53,6% de câmeras não-reflex.
A Sony avança…
Em 2006, quando a Sony adquiriu da Konica Minolta o setor de operações de fotografia – inclusive o nome “α” (alpha) – a gigante da eletrônica informou que pretende abocanhar a fatia do mercado como a terceira maior fabricante de equipamentos fotográficos. Na época lançou a câmera DSLR α100, voltada para principiantes. Porém, era muito difícil competir com as soberanas Canon e Nikon, com o mesmo produto. Então resolveu investir pesado nas câmeras mirrorless, lançando em 2010 modelos para consumidores (incluindo câmeras compactas) e em 2013 lança a série α7 de sensor de imagem full size, voltada para profissionais. Mesmo assim, a Sony não parou de lançar câmeras DSLR, voltadas para amadores despretensiosos, profissionais e amadores exigentes. A estratégia da Sony em obter muitos usuários para a mirrorless da marca, “puxando” de outras, é muito engenhosa. Criou adaptadores “amigáveis” para objetivas de várias marcas, mantendo a rapidez e a precisão do foco automático. Esses adaptadores são necessários para usar objetivas de câmeras DSLR em câmeras mirrorless, devido à diferença de espaço entre a objetiva e o sensor de imagem, o chamado “flange back“. Uma das grandes vantagens da Sony é que ela é fabricante de sensores – inclusive fornece para outras marcas – e pode desenvolver os mais avançados, primeiramente para as câmeras da casa, é claro. Na primavera de 2017 foi lançada a Sony α9 voltada para esportes, ação e jornalismo, com avançado sistema de memória intermediária em camada no sensor, para diminuir o efeito “rolling shutter” de obturadores eletrônicos. A Sony ainda é a única que tem câmeras mirrorless com formato de sensor full size, agora com 4 modelos: α9, α7RIII, α7III e α7sII.

A primeira câmera DSLR Sony α100, lançada em 2006. © Sony Corp.
Canon na transição
A Canon, por sua vez, por ser a maior fabricante de DSLR do mundo, tem muito a se preocupar em manter a sua posição de líder. Já havia começado a fabricar câmeras mirrorless (série M) logo depois da Sony, mas evitando o “canibalismo interno” contra as DSLR. Mas às vésperas da última edição do CP+, lançou oficialmente a família EOS Kiss M, com o primeiro modelo, baseado no design da existente EOS 5M. E ainda continua a família Kiss DSLR, inclusive com o lançamento também na CP+, da EOS Kiss X90, que provavelmente vai aos poucos cedendo a vez para a família Kiss M.

Canon EOS Kiss M, nasce a família Kiss mirrorless. © Canon Inc.
Nikon se preparando
A Nikon, em termos de câmeras mirrorless, é a mais discreta entre todos os fabricantes, oferecendo somente uma família – a Nikon 1 com sensor pequeno de 1 polegada (13,80mm x 8,80mm) praticamente a metade de um 4/3. Na CP+ 2018 não apresentou nenhuma novidade, como muitos estavam esperando. Porém, saiu da própria boca do chefão do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento, Tetsuro Goto, que “a tendência é full size; se a Nikon ‘for’ de mirrorless, terá que ser com full size“, em entrevista ao site chinês de fotografia, a Xitek. A Nikon pode demorar para lançar um produto, mas sempre acaba lançando algo realmente significativo, como fez com a D500, ao demorar para substituir a D300s. E na D850 parece que a Nikon colocou “tudo o que sabe fazer”. É bem provável que seja assim também com as novas mirrorless da casa, pois lançar por último tem as suas vantagens, como ver todas as partes negativas dos concorrentes.

Câmera mirrorless Nikon 1 J5, com sensor de imagem de 1 polegada
Conclusão
Guardadas as devidas proporções, esta fase de mudanças de plataforma (na realidade, imposição de novos hábitos de consumo) lembra a época de mudança entre câmeras de filme para câmeras digitais. A Sony parece que acertou cheio em apostar forte nas câmeras mirrorless, podendo até galgar posição de mercado mais alta no futuro. A Sony e a Canon têm a vantagem de serem as maiores empresas (sem considerar a parte fotográfica). A Nikon, menor das três grandes como empresa, mas ainda é dona da segunda maior fatia de mercado de câmeras. Os fabricantes como Fujifilm, Olympus, Panasonic, Ricoh, Sigma etc., têm excelentes produtos e um público relativamente fiel ou aficionados da marca. Enfim, as “três irmãs gigantes” estão numa competição realmente calorosa e em 2018 ainda pode acontecer muita coisa…