“Manda nudes”: reflexão sobre o sexting

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A influência da virtualidade na vida das pessoas é uma realidade que se apresentou desde o advento da internet e intensificou-se com sua popularização. Nesse sentido, todos os campos da vida das pessoas foram de alguma forma afetados, e não seria diferente com a sexualidade. Isso significa que aquilo que entendemos como virtual se incorpora como componente da sexualidade (off-line), havendo uma nova configuração das possibilidades de explorar o prazer sexual sobretudo por meio das redes sociais e aplicativos de bate papo.

Assim, os efeitos (positivos ou negativos) do sexting irão depender do uso (ético ou não) que se faz desse recurso. Sabemos que existem riscos relacionados à violação de privacidade, como vazamento proposital de nudes em redes sociais, grupos que podem ocasionar bullying cibernético. Também é sabido que muitas crianças e adolescentes têm acesso a aparelhos telefônicos que acabam sendo um canal para tais práticas. Isto posto, é importante que pais e responsáveis por crianças e adolescente consigam conversar sobre sexualidade responsável, conhecendo os riscos e benefícios de modo consciente, através de uma educação sexual que promova autonomia e consciência para lidar com tais situações.
Com relação ao uso positivo e ético desse recurso, podemos seguir princípios de segurança, consensualidade e de saúde.

A segurança se daria em relação à parceria sexual a que se destinam esses conteúdos– namorada(o), companheira(o)–, não mostrando partes do corpo (rosto, tatuagem, piercing) que possam ser identificadas.

O consenso tem a ver com a vontade e receptividade da pessoa destinatária em receber. Aqui vale se perguntar: ela gostaria/quer receber o meu conteúdo sexual? Se não, não insista, pois o que era uma brincadeira em que ambos estavam gostando pode se transformar em uma coisa chata e muitas vezes doentia, beirando ao assédio.

Quando tratamos o sexo de modo responsável, qualquer recurso pode contribuir para obtenção de prazer sexual. Quem não lembra do antigo “138”, em que era possível conversar com pessoas por telefone? Assim como os contos eróticos em revistas, até a utilização de redes sociais como Hepen, o ser humano consegue sempre criar usos. Penso que as questões que importam são independentes da materialidade (aplicativos, smarfones), mas se referem ao respeito e a não resumir o outro a um objeto sexual de fetichização.

Um último aspecto que podemos refletir se refere à substituição das práticas sexuais presenciais pelas virtuais. Inibições, vergonha, ansiedades são alguns dos muitos motivos que podem fazer com que algumas pessoas utilizem as redes para não entrar em contato pessoal.

Por conseguinte, o uso do sexting, embora tenha muitos pontos positivos, pode tornar-se nocivo quando for a única forma de vivenciar a sexualidade. Prejuízos sociais como perder compromissos ou comprometer áreas importantes da vida, assim como entrar em um processo cíclico que gera sofrimento podem ser sinais de que essas práticas, assim como outras, estejam sendo vivenciadas de uma forma não muito saudável.

Dessa forma, cabe observar como é a relação estabelecida com essa prática. Se perceber que há algo de repetição, abra o olho. Fora os adendos de cuidados éticos, de respeito à parceria sexual, é importante poder olhar para essas práticas como fonte de saúde e bem-estar, pois sexo é bom e todos temos direito ao “bom gozo”.

 

Francis Deon Kich é psicólogo (CRP 07/031647) do Projeto Sakura.

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