Com o mundo ainda tentando entender o sucesso do Japão no combate ao novo coronavírus sem a aplicação de medidas severas de restrição social, o país resolveu declarar o fim do estado de emergência nacional no dia 25 de maio. Até a última quarta (3), o país tinha registrado 17712 casos de infecção e 914 mortes, um número extremamente baixo para uma população de mais de 127 milhões de habitantes. No entanto, dados dos últimos dias, que mostram um ligeiro aumento no número de casos, têm dado munição a grupos contrários à reabertura do país, por eles vista como prematura.
Tóquio, a província mais atingida com cerca de 1/3 dos casos do país, viu comércio e serviços que estavam fechados por meses voltarem a atividade nesta última segunda-feira. No entanto, bairros usualmente agitados como Shibuya, ainda continuavam com movimentação bem abaixo do normal. Com a abertura, uma série de medidas vem sendo tomadas por comerciantes para evitar o contágio do coronavírus em seus estabelecimentos.
No Parco, recém renovado shopping center do bairro, os alto-falantes solicitavam o uso de máscara ou outro tipo de proteção para a boca e o nariz. Além do álcool gel, onipresente, as lojas criaram diversas estratégias para evitar a aglomeração de pessoas. Numa famosa loja de jogos eletrônicos, por exemplo, o atendimento é feito somente com reserva antecipada. Caixas trabalham atrás de cortinas de plástico ou vinil. Devassadas na entrada, algumas lojas decidiram colocar balaústres a fim de direcionar visitantes para um único corredor, onde uma garrafa de álcool fica disponível para a limpeza das mãos. Já o Shibuya 109 e a loja de eletrônicos Bic Câmera, adotaram sistemas de medição de temperatura em suas entradas.
Escolas também retomaram as atividades nos últimos dias. Uma mãe da cidade de Katsushika, que prefere não ser identificada, conta que as turmas foram divididas em dois grupos que estão estudando por 1 hora diária em horários alternados. Na próxima semana, o plano é que cada grupo tenha aulas em um turno, manhã ou tarde, pelo período de 3 horas. Segundo a mãe, a temperatura das crianças precisa ser medida antes da ida para a escola e o uso de máscara é obrigatório. Além disso, as crianças só podem brincar fora de casa depois das 3 e meia da tarde, horário em que, normalmente, elas já estariam livres das aulas.
Situação ainda exige cuidados
A tímida e cautelosa reabertura, no entanto, ganhou sinal amarelo com números revelados na última terça (2). Pela primeira vez em algumas semanas, o número de novas infecções passou a casa das 3 dezenas na capital japonesa. Com 34 novos casos, a governadora da província metropolitana decidiu fazer um alerta à população. Para ilustrar a situação, a icônica Ponte Rainbow e o Palácio Governamental de Tóquio trocaram sua iluminação noturna para o vermelho.
Koike Yuriko declarou que poderá solicitar que comércio e serviços fechem suas portas novamente e que a população volte a ficar em casa caso o número de novos casos chegue a 50 por dia. A governadora disse estar preocupada com o funcionamento de bares e casas noturnas. Segundo a NHK World, cerca de um terço dos casos registrados em Tóquio na última semana estão relacionados a este tipo de negócio. A emissora afirma que especialistas estão estudando formas seguras de manter os estabelecimentos abertos.
Kitakyushu, na província de Fukuoka, tem sido outro exemplo usado nas críticas ao fim do estado de emergência. Com 113 novos casos em 10 dias, registrados no dia 1° de junho, a cidade de pouco menos de 1 milhão de habitantes tem chamado a atenção de todo o país. Escolas e hospitais do município são os principais focos dessa nova onda de contaminações que pegou as autoridades locais de surpresa. “Para ser sincero, não sei porque esses casos surgiram”, disse o responsável pelo controle da doença na cidade ao jornal Mainichi.
Fukuoka foi uma das províncias a ter estado de emergência declarado em 7 de abril e também figurou na lista inicial das 39 liberadas num primeiro momento, em 14 de maio. Do andar da carruagem em Fukuoka e Tóquio vai depender a mudança de rumo na política de restrições, até então considerada leve, da administração Abe.