Nesta edição, o GUIA JP traz dicas de passeios para você conhecer melhor a província de Ibaraki. Veja agora a parte 2!
4- A Cidade das Carpas
Hitachiota, quase no litoral de Ibaraki, produz uma grandiosa exposição de carpas suspensas na Ponte Ryujin, considerada a maior passarela de ferro do Japão. Cerca de mil carpas são penduradas paralelas à ponte, cruzando o desfiladeiro, da última semana de abril até o meado de março.

IBARAKI: Seis cidades para você conhecer a província
Ornamento comum no antigo Dia dos Meninos (5 de maio), as carpas são as estrelas de uma lenda que conta que a espécie, ao nadar contra a corrente, se torna um dragão no final da jornada. No passado, esse tipo de jornada heróica era visto como coisa de garoto e, por isso, as famílias suspendiam carpas somente para os filhos homens. Atualmente, cada uma das crianças da família ganha destaque e as orações são feitas para que meninos e meninas se tornem fortes como os dragões da lenda. Em Hitachi-ota, esse desejo é representado por carpas gigantes e multicoloridas que balançam ao sabor do vento no desfiladeiro. Poético!
Festival das Carpas do Desfiladeiro de Ryujin (竜神峡鯉のぼり祭り)
Ibaraki-ken Hitachiota-shi Keganocho 2133-6
final de abril até a segunda semana de maio
entrada franca
5 – A Cidade das Flores
Um dos lugares mais instagramáveis do Japão, o Hitachi Seaside Park é um parque público de 190 hectares na cidade de Hitachinaka no litoral da província de Ibaraki. Antes um aeroporto militar, o espaço foi ocupado pelas forças americanas no final da Segunda Guerra Mundial e utilizado como área de treinamento balístico. Com as mortes e acidentes ocorridos no local, os moradores se organizaram para solicitar o fim do uso militar do terreno, o que acabou ocorrendo em março de 1973, quando os americanos devolveram a área ao governo japonês. A partir daí, se decidiu pela criação de um parque coberto de flores, uma espécie de oração em prol da paz.
Geologicamente falando, o parque fica em cima de uma área de dunas depositadas ao longo dos milênios pelo Rio Kuji, que desemboca por ali, no Mar de Kashima, que nada mais é que o próprio Oceano Pacífico. Essa areia, deslocada pelos ventos abundantes, acabou se formando as diversas colinas da área que hoje abriga o parque. Por conta das correntes quentes e frias que se alternam ao longo do ano, espécies vegetais comuns no norte e no sul do planeta conseguem vingar na região, criando paisagens diferentes ao longo do ano.

IBARAKI: Seis cidades para você conhecer a província
Colinas cobertas de um tapete azul são a imagem mais icônica do Hitachi Seaside Park. Do meado do mês de abril até o início de maio, 4,5 milhões de nemófilas florem no Miharashi no Oka, atraindo, sem exagero, visitantes de várias partes do planeta. Chamadas em japonês de rurikarakusa, essas plantas são originárias da América do Norte ocupam 3,5 hectares do parque. Elas chegam a 20 centímetros de altura e suas flores delicadas têm até 3 centímetros de diâmetro. Flores coadjuvantes na maioria dos jardins em seu local de origem, as nemófilas são as grandes estrelas na primavera do Hitachi Sea Side Park.
A partir de julho, o protagonismo muda e as Bassia scoparia começam a verdejar. Chamadas de kochia em japonês e mirabela em português, as plantas passam todo o verão com essa coloração. Até que, na entrada do outono, elas começam a mudar de cor. No meado de outubro, os quase 2 hectares dedicados a essa planta nativa do continente eurasiático ficam pintados de vermelho escarlate, um espetáculo que mobiliza milhares de visitantes de volta à Colina Mirahashi. Encontrada também no Japão onde é chamada de houkigusa, a mirabela produz nozes conhecidas pelos japoneses como tonburi. Elas são comestíveis e, na província de Akita, são chamadas de “caviar dos campos”. No parque, no entanto, não é permitido comer os tonburi.
Além das duas maiores estrelas, outras flores podem ser vistas no parque ao longo do ano. Mesmo no inverno, a época mais seca, uma espécie de tulipa pode ser apreciada por lá. Mas é a partir de fevereiro que o local começa a ficar colorido, com o florescer das ameixas. Em seguida, março e abril a dentro, abrem os narcisos, a colza, as rosas, as tulipas e outras. O calendário anual das flores pode ser conferido no site do local (hitachikaihin.jp).
Porém, não é só de colorido que vive o Hitachi Seaside Park. Para as crianças, espaços como o Tamago no Mori Garden garantem a diversão. Ali, existe um trampolim que é capaz de drenar a energia da garotada mais agitada. Outro espaço preferido pelos pequenos é o Omoshiro Tube, um playground em forma de tubo que lembra uma montanha russa com seus 400 metros de comprimento e 19 diferentes subidas e descidas. No verão, é possível enfrentar o calor Mizuasobi Hiroba, onde a garotada brinca em chafarizes e piscinas rasas. A enorme área pode ser percorrida por duas linhas de “trem” que circundam o local e até uma roda gigante foi instalada no local para quem quer apreciar as flores de forma diferente.
Amantes de esporte também não ficarão descontentes. Duas pistas de BMX podem ser usadas pelos apaixonados por bicicross. Tanto as magrelas quanto os equipamentos protetores podem ser solicitados para empréstimo no local. Quem curte golfe pode usar uma das duas pistas disponíveis no parque, uma delas para iniciante. A cidade das flores é, também, um espaço de lazer e esportes.
Hitachi Seaside Park (ひたち海浜公園)
Ibaraki-ken Hitachinaka-shi Mawatari Onuma-aza 605-4
9:30 às 17:00 (em alguns dias do ano, o parque abre mais cedo e fecha mais tarde)
De um modo geral, o parque fecha às segundas, no ano novo e em alguns dias na primeira semana de fevereiro. Antes de visitar, consulte o calendário no site hitachikaihin.jp para saber os horários de funcionamento.
¥450 (adultos e estudantes do Ensino Médio), ¥210 (a partir dos 65 anos); tíquetes para dois dias e passe anual também estão disponíveis
6- A Cidade do Peixe Feio
Beleza põe mesa no prato dos japoneses, isso já sabemos. Até o bentô mais ordinário do supermercado costuma ser muito bem apresentado. Em outras palavras, no Japão o pessoal sabe comer com os olhos. Se a beleza é regra para os pratos, o mesmo não pode se dizer para os ingredientes. Assim fosse, seria difícil que alguém se deixasse seduzir pela aparência do anko, conhecido em português como tamboril, uma das criaturas mais feiosas que o mar pôde produzir. Não é à toa que o peixe vive a profundidades entre 100 e 400 metros. Sua boca e suas barbatanas são enormes! Os dentes afiados e as mandíbulas grandes assustam até mesmo os pescadores. Além disso, o animal é viscoso e seu corpo parece mais uma gelatina. Alguém aqui lembrou do natto? Pode-se dizer que o tamboril é um natto em forma de peixe.

IBARAKI: Seis cidades para você conhecer a província
Na cidade de Kita-ibaraki, porém, tanta feiura gera riqueza. Hirakata é um dos portos pesqueiros mais movimentados da região e aqui costuma chegar o ki-anko, o tamboril amarelo, uma espécie que chega a ter 1,5 metro de comprimento e o peso de 30 quilos. Pescado basicamente no inverno, o peixe é uma iguaria disputada na estação. Parte da produção local é enviada para os mercados de todo o país e até do exterior por preços que só não são mais assustadores que a aparência do tamboril.
Um dos pratos feito com o feioso é o dobu jiru, um cozidão que leva a carne, os ossos, a pele, os ovários e o fígado do bicho junto com alho-poró, rabanete daikon e pasta de soja missô. O delicioso prato é, literalmente, papo de pescador. Surgido em alto mar, quando eles preparavam sua refeição, o dobu jiru não leva água potável, essencial quando se está embarcado. Isso porque quase 80% do corpo pegajoso e gelatinoso do tamboril é formado pelo líquido, que vai sendo liberado durante o cozimento.
Mas a base do gosto do prato é o encorpado fígado do animal que, ao ser cozido, libera no caldo gordura e sabor. Não é à toa que chefes mundo afora chamam o fígado do tamboril de foie gras do mar. Nos restaurantes de Tóquio, o dobu jiru pode chegar a custar ¥15000. Em Ibaraki, é possível se hospedar num ryokan e comer a iguaria pelo mesmo preço. Depois de conhecer a cidade do peixe feio, tenho certeza de que você vai concordar que beleza, realmente, não põe mesa.
Veja também: Ibaraki – Parte 1