Brasil é destaque em festival de fotografia em Kyoto

Evento apresenta obras de artistas de todos os continentes

Leitura obrigatória

Roberto Maxwell
Roberto Maxwellhttp://www.tokyoaijo.com
Radicado no Japão desde 2005, atua como produtor de conteúdo multimídia e acumula trabalhos como repórter, documentarista, produtor e palestrante. Apaixonado por viagens, dedica-se a percorrer o arquipélago e registrar suas maravilhas e contradições.

Primavera em Kyoto não é apenas sinônimo de belas floradas de cerejeira. É também a época em que a cidade recebe um dos mais importantes festivais de fotografia do Japão, o Kyotographie. Em sua 12ª segunda edição, o evento ocupa 12 espaços icônicos da cidade, incluindo o Castelo de Nijo e o Museu de Arte Kyocera, com 13 exposições principais de artistas de todo o planeta e uma série de outras atividades, algumas delas gratuitas.

Com o tema “Origem”, o Kyotographie 2024 vem dando grande destaque à exposição “A Luta Yanomami” da fotógrafa suíço-brasileira Claudia Andujar. Radicada no Brasil desde 1955, depois de fugir dos horrores da Segunda Guerra na Europa e de uma temporada nos Estados Unidos, Andujar iniciou uma relação com os indígenas brasileiros em 1958, por sugestão do antropólogo Darcy Ribeiro. Sem formação acadêmica na fotografia, elausava seu olhar pessoal e intimista para estabelecer relações com os locais, não apenas no Brasil, mas em outros países ds América do Sul.

foto: Claudia Andujar, cortesia do Instituto Moreira Salles

Foi somente em 1971, já com experiência e muitas publicações na área da fotografia, que Andujar chega aos yanomami, na Amazônia. A relação de décadas com o povo levou a fotógrafa a ser uma das mais conhecidas e aguerridas ativistas pelos direitos e pela demarcação de terras indígenas. Ela chegou, inclusive, a  enfrentar a ditadura militar que a proibiu de visitar os yanomami no final dos anos 1970.

O povo enfrenta dificuldades na região amazônica há décadas e desembarcou nas manchetes no final de 2022 após denúncias de abandono por parte das autoridades. Os yanomamis brasileiros vivem numa área de cerca de 9 milhões de hectares nos estados do Amazonas e Roraima. A Terra Indígena Yanomami é demarcada desde os anos 1990 e abrange, ainda, três áreas de conservação ambiental. No entanto, os yanomamis têm visto seu território invadido por não-indígenas, o que levou à uma crise humanitária ainda sem solução. As obras exibidas fazem parte de uma retrospectiva de Claudia Andujar e mostram não apenas o modo de vida do povo amazônico como, também, servem de alerta para a situação atual.

Eventos paralelos

Acompanhando a obra de Claudia Andujar, o Kyotographie recebe também o líder yanomami, xamã e escritor Davi Kopenawa. Ele deve participar de uma série e eventos no Japão. Uma das vozes mais importantes pelo direitos dos povos originários no continente americano, Kopenawa estará na abertura da exposição, dia 13 de abril, num bate-papo com Thyago Nogueira, curador e diretordo Instituto Moreira Salles, no Brasil.

O líder yananomami Davi Kopenawa (foto: cedida)

O xamã também fará o discurso de abertura dos shows da cantora Xênia França no evento paralelo Kyotophonie. Vencedora do prêmio de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo no Grammy Latino no ano passado, a baiana se apresenta no dia 14 em duas sessões no Higashi-Honganji, um dos templos budistas mais importantes de Kyoto.

O Kyotographie estreia no dia 13 de abril em diversos locais na cidade. A mostra vai até o dia 12 de maio. Além do evento fotográfico principal, está sendo realizado nas mesmas datas o KG+, um evento paralelo com 120 exposições de artistas iniciantes espalhadas pela cidade. Já o festival sonoro Kyotophonie tem programação musical no fim de semana de 13 e 14 de abril e uma instalação sonora que estará aberta até o dia 12/05.

A cantora Xênia França faz duas apresentações em data única em Kyoto (foto: cedida)

Os ingressos são vendidos individualmente, por exposição, com preços que variam de ¥600 a ¥1200. Um passporte promocional que dá direito a uma entrada em cada exposição não-gratuita durante todo o período do festival está a venda até o dia 12 de abril por ¥5500. Já o Express Passport permite diversas entradas em todas as exposições pagas durante todo o período do evento, com prioridade de acesso garantida. Ele custa ¥15000.

Os ingressos para o show de Xênia França estão disponíveis aqui.

A programação completa, incluindo os eventos e exposições gratuitas, bem como as formas de compra dos ingressos para o festival, podem ser acessados aqui.

A reportagem viajou a convite da organização do evento.

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