Toda vez que Jhony Sasaki, 45, voltava ao Brasil, sentia que podia fazer alguma coisa para melhorar o país. “Via as pessoas reclamando da situação e ficava fazendo comparações para tentar entender como poderia ajudá-las”, conta o apresentador e repórter, que viveu metade de sua vida na Terra do Sol Nascente. Do Japão, vêm parte das referências que, acredita, podem ajudar a mudar o Brasil: “a disciplina, a persistência, a organização, o saber que tudo tem começo e fim e que é preciso estar organizado para que as coisas aconteçam”, explica.
Mas foi algo muito concreto que fez Jhony deixar uma carreira consolidada como repórter para trás e investir na política. Convites não faltavam, inclusive de um amigo de infância que acabou sendo a razão para a grande mudança. “Ele teve uma parada cardíaca e foi parar num hospital municipal. Não tinha leito e teve que ficar numa maca”, recorda. A pedido da família, Jhony recorreu à ajuda de uma amiga deputada e conseguiu uma vaga num hospital para o amigo. No entanto, não havia ambulância para a transferência. “Ele veio a óbito”, conta Jhony. “Isso mexeu muito comigo e eu pensei: ou fico só reclamando ou faço alguma coisa”, continua.
Ao retornar ao Brasil, Jhony embarcou numa campanha para vereador em São Vicente, sua cidade de residência. Ele conta que levantava às seis e dormia às onze da noite, batendo de porta em porta para se apresentar aos eleitores. “Muitas pessoas não acreditavam que, com apenas um mês e meio, eu pudesse fazer uma campanha sem comprar votos, sem entrar nesse jogo sujo da política. Fiz uma campanha limpa e relativamente barata”, explica. Segundo dados do TSE-SP, o então candidato gastou R$ 277.923,32 na campanha, valor semelhante ao dos três candidatos mais bem sucedidos na disputa. Novato na política, Jhony conquistou 2.458 votos e foi o sétimo mais votado da cidade.
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Eleito, o agora vereador encontrou novos desafios. Descobriu verbas para o saneamento paradas por falta de projetos e foi atrás de um modo de destravá-las. Nas redes sociais, Jhony mostra suas visitas quase que diárias às comunidades de São Vicente para ouvir os problemas locais e encaminhá-los. “Em um ano e meio de mandato, sou o vereador que mais conseguiu destinar recursos, através dos governos estadual e federal, para a cidade”, conta ele que tem uma forte crença. “A política é uma ferramenta de equalização, em que você transforma a vida das pessoas de forma coletiva”, diz.
O envolvimento local não fez com que Jhony esquecesse a situação dos brasileiros no Japão. “Há anos venho falando do envelhecimento da comunidade brasileira, dos vistos para yonsei, da desigualdade de vistos. Antes eu falava, mas as autoridades políticas não me davam ouvidos. A entrada na política me deu um caminho para chegar até essas autoridades e é isso que eu venho fazendo desde que cheguei ao Brasil”, conta ele que pretende usar parte do tempo em que estiver no Japão para se encontrar com o novo embaixador do Brasil, Octávio Henrique Dias Garcia Côrtes, e com representantes do governo japonês. A ideia é fazer o possível para destravar pautas que possam beneficiar os brasileiros que vivem no Japão.
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Mas, sem dúvida, boa parte da estadia de Jhony no país será dedicada a matar a saudade dos amigos e da comunidade que o acolheu por mais de duas décadas. O atual vereador era um adolescente roqueiro e fã de Charlie Brown Jr. quando foi recrutado para ser a cara jovem da extinta IPC TV. Na emissora, Jhony apresentou, dentre outros programas, o Agenda +, que mostrava a comunidade brasileira de forma divertida e atraente. Com o tempo e a maturidade, o apresentador foi conquistando espaço. Apadrinhado por Ana Maria Braga, virou correspondente do programa Mais Você. Também fez coberturas para o noticiário da Rede Globo, inclusive durante momentos dramáticos como o Grande Terremoto do Leste do Japão, em 2011.
Com carisma e simpatia, Jhony se consolidou também como apresentador do Festival do Brasil de Tóquio, que até antes da pandemia era o mais importante evento brasileiro organizado no Japão. O vereador diz que tem altas expectativas para a volta ao país. “Quero reencontrar os amigos, abraçar a comunidade brasileira”, conta ele que pretende fazer um evento interativo e com muita emoção. “A saudade é algo que nos divide. Quando estamos no Japão, sentimos saudades do Brasil. Quando estamos no Brasil, sentimos saudade do Japão. Quero trazer a nossa brasilidade, as nossas cores, a nossa musicalidade e o nosso jeito de ser. Quero que as pessoas se sintam em casa”, finaliza.